A partir de amanhã o Congresso Nacional deflagra recesso de duas semanas e a expectativa do presidente Michel Temer é a de ganhar uma trégua na crise política, agravada pela denúncia da Procuradoria Geral da República que acusa o peemedebista de corrupção passiva. O Planalto avalia que tem estado sob bombardeio incessante e que o governo se mantém na defensiva, paralisado nas iniciativas que componham a chamada agenda positiva. Hoje o presidente deverá gravar vídeo defendendo a reforma trabalhista que foi aprovada pelo Senado e que sofre restrições e resistências de segmentos da sociedade.
Em conversas informais que se tornaram frequentes em Brasília com ministros da confiança pessoal e líderes políticos da base parlamentar, o presidente Temer insiste na necessidade de monitoramento dos votos e posições de senadores e deputados em matérias polêmicas, testando o grau de fidelidade ao governo. Versões palacianas dão conta de que o receio é de traições dentro do PSD e do PR, mas elas podem se espalhar por outros partidos que não tiveram pleitos atendidos até o momento. Temer acha que saiu de foco temporariamente no episódio da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo juiz Sergio Moro e foi informado do resultado de uma pesquisa do Instituto Paraná apontando que 65% dos entrevistados (a maioria no universo consultado) apoiaram a punição aplicada ao ex-gestor.
Mas o presidente da República se mantém atento diante da possibilidade de que Lula capitalize o papel de vítima de suposta retaliação de um integrante do Judiciário. Seja como for, o governo está convencido de que precisa retomar o apoio de empresários e investidores que reclamam da inação na tomada de medidas de impacto para o aquecimento da própria economia. A votação do relatório da PGR denunciando o presidente por corrupção passiva está prevista inicialmente para dois de agosto na Câmara dos Deputados, porém, o Planalto trabalha a todo vapor com vistas a empurrar o desfecho para primeiro de setembro, dando fôlego ao titular do Executivo para produzir fatos novos que possam reverter a maré de rejeição ao seu governo.
Temer tem se empenhado pessoalmente em contatos telefônicos com parlamentares pedindo um voto de confiança nas reformas que, segundo justifica, constituem passo importante para mudanças estruturais. Em alguns casos, o peemedebista mergulha no “varejo” político, empenhando-se no atendimento de demandas de pequena monta ou na liberação de recursos provenientes de emendas e que estão alocados no Orçamento Geral da União. O deputado Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara Federal, é encarado como peça decisiva na sustentação da gestão de Temer, apesar de desconfianças quanto à sua fidelidade ao mandatário. A rede de intrigas montada em Brasília tenta convencer Temer de que Rodrigo legisla em causa própria, diante da perspectiva de vir a assumir a suprema magistratura da Nação em caso de impeachment do peemedebista. O senador Romero Jucá foi taxativo e afirmou sem pedir sigilo: “É um equívoco pensar que o Rodrigo vai continuar governando se o Michel cair. Em quinze dias de governo, ele será denunciado. A mesma coisa ocorre com Eunício Oliveira, presidente do Senado. Quem luta para tirar o Michel quer, na verdade, colocar a Cármen Lúcia (presidente do Supremo Tribunal Federal) no cargo”.
Nonato Guedes