Sertanejo de Conceição, no Vale do Piancó, o ex-governador Wilson Leite Braga festeja hoje 86 anos de idade exibindo inúmeros troféus, entre eles o de político que mais disputou eleições na história da Paraíba. Sua mais retumbante vitória se deu no pleito direto de 1982, quando derrotou Antônio Mariz ao governo do Estado por 151 mil votos de diferença, concorrendo pelo PDS, sucedâneo da Arena. O único mandato que Wilson não conseguiu inscrever no currículo é o de senador. Em 86, foi batido por um empresário que até então era neófito em política – Raimundo Lira, novamente ocupando o mandato, que assumiu com a renúncia de Vital do Rêgo (de quem era suplente) para assumir uma cadeira de ministro do Tribunal de Contas da União.
Wilson pendurou as chuteiras em definitivo em 2014, à frente do mandato com que iniciou sua escalada política – deputado estadual, em 1954. Foi vereador e prefeito de João Pessoa, deputado estadual por vários mandatos e deputado federal idem. Como governador, impulsionou programas de assistência aos mais carentes, criando uma Fundação de Ação Social confiada à sua mulher, Lúcia Braga, e investiu em abastecimento de água, bem como em projetos habitacionais. De linhagem populista, Wilson teve passagem pla Casa do Estudante da Paraíba em João Pessoa e transitou por várias legendas, do PSB, na década de 50, ao PDT de Leonel Brizola. Alinhou-se com o regime civil-militar instaurado em março de 64, mas não há registro de participação sua ou de envolvimento, muito menos conivência, com atos arbitrários que foram praticados pelos expoentes radicais que davam sustentação ao sistema.
O projeto Canaã, voltado para irrigação e abastecimento de água, e a Fundação Social do Trabalho, pilotada por Lúcia Braga, são exemplos de obras marcantes da Era Braga no poder. Mas ele também obteve o apoio de segmentos do funcionalismo público, por ter sido o governante que concedeu os melhores reajustes salariais à categoria. Sua mulher, Lúcia, passou a dividir espaços políticos com Wilson, mas raramente coincidiam nas posições exibidas em público. Na eleição indireta a presidente da República no Colégio Eleitoral, por exemplo, Wilson apoiou ostensivamente a candidatura de Paulo Maluf, que era detestado até pelo presidente Figueiredo, enquanto Lúcia tornava pública sua preferência por Tancredo Neves, que acabou vitoriando mas não tomando posse por ter falecido às vésperas da investidura. Wilson ainda manteve intactos os laços com esquemas políticos tradicionais do Estado enquanto Lúcia caminhava pela margem esquerda, fazendo declaração de voto em Antônio Mariz contra Marcondes Gadelha em 90, na disputa ao Senado, e batendo de frente na Assembleia Nacional Constituinte com o “Centrão”, um agrupamento que reunia a fina flor do conservadorismo político brasileiro e no qual militavam alguns ex-companheiros de jornada de Wilson na Câmara Federal.
As origens familiares modestas no Vale do Piancó moldaram em Wilson Braga o perfil de um político com sensibilidade voltada para os mais pobres ou necessitados. Foi isto que levou alguns cientistas políticos a reduzirem a personalidade de Wilson ao epíteto de “populista”, ignorando posições firmes que ele tomou, contra princípios impostos pelo regime militar a quem apoiava. A respeito da derrota experimentada ao Senado em 86, Wilson Braga chegou a desabafar: “Fui injustiçado pelo povo, mas não fui o primeiro nem serei o último. A Paraíba já derrotou, em eleições, José Américo de Almeida, Assis Chateaubriand, Alcides Carneiro, Argemiro de Figueiredo, Ruy Carneiro e Pedro Gondim. Nem por isso eles foram menos amados e honrados. São acidentes de percurso, consequências de incompreensões circunstanciais, herança de climas emocionais como o desejo de mudança que motiva o país. Gosto de política, gosto do povo, sou do ramo. O tempo se encarregará de mostrar que fiz um dos melhores governos da Paraíba, dando ao social a prioridade que prometi e que sempre considerei imprescindível”.
Nonato Guedes