Ganha vulto a disputa entre facções de esquerda no país pela ocupação de espaços no plano político-eleitoral. “A esquerda procura um novo líder”, admite a revista “ISTOÉ”, observando que o Partido dos Trabalhadores asfixiou os partidos aliados ao não criar alternativas ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e, agora, com o petista nas cordas, faltam consenso e um nome de peso para desfraldar bandeiras do segmento esquerdista. Mesmo os nomes que são cogitados como alternativas já são nomes “carimbados” e conhecidos do eleitorado, como Marina Silva, Ciro Gomes e Cristovam Buarque. Este último vem sofrendo hostilidades de grupos radicais que o acusam de “golpista”. Cristovam é filiado ao PPS e exerce mandato de senador pelo Distrito Federal.
O pano de fundo da controvérsia é, naturalmente, a disputa presidencial de 2018. Em tese, Lula seria o nome mais forte para capitalizar as insatisfações com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff e com a própria condenação dele pelo juiz Sergio Moro. Mas há dúvidas sobre a elegibilidade de Lula no pleito do próximo ano, diante da punição imposta por Moro e que os advogados do ex-presidente tentam reverter. A perspectiva de que Lula venha a se tornar “ficha suja” e, portanto, inelegível, nem de longe é admitida pelos petistas mais ortodoxos. No agrupamento de esquerda, porém, a ordem é trabalhar com outras opções, a fim de que a esquerda não venha a ser surpreendida pela descrença popular que pode se refletir no despejo de votos em nomes como Jair Bolsonaro e João Doria, este prefeito de São Paulo pelo PSDB.
Já há alguns meses, integrantes do PSOL, do PT e da Rede vêm discutindo possíveis presidenciáveis num cenário “sem Lula”. Numa das reuniões foram debatidos nomes como o de Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Tarso Genro, remanescente petista, onde sofre restrições. Lula, conforme versões, ficou furioso ao saber da participação do senador Lindbergh Farias (PT-RJ) na conversa, pois não admite a possibilidade de sequer cogitarem sua não participação na corrida eleitoral no ano que vem. Ciro Gomes é visto como o nome de maior musculatura política, por já ter concorrido à presidência da República duas vezes – em 1998 e em 2002. É conhecido nacionalmente e ocupou cargos importantes no poder Executivo: já foi ministro da Fazenda no governo de Itamar Franco, titular da pasta da Integração Nacional, época em que liberou vultosos recursos para investimentos em municípios nordestinos e governou o Ceará por duas vezes. Tanto a corrente majoritária do PT, Construindo um Novo Brasil, quanto o PCdoB tendem a apoiar incondicionalmente Lula ou Ciro. Já o deputado Ivan Valente, importante quadro do PSOL, aponta resistências a Ciro do ponto de vista comportamental e programático. “É difícil (ele) decolar por causa da personalidade de pavio curto e por não ter uma mobilização social por trás de si”, resume.
Tarso Genro possui experiência, credibilidade e trajetória de militância à esquerda, sendo uma das poucas lideranças críticas a propor a refundação do PT. No entanto, tanto ele quanto sua filha Luciana Genro, fundadora do PSOL, que já disputou a presidência no pleito passado, construíram trajetória basicamente no Rio Grande do Sul. Além disso, o grupo de Lula torce o nariz para a família Genro por ter questionado os desmandos dentro do PT. A favor de Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente e fundadora da Rede, pesa o recall da eleição passada, na qual por pouco não enfrentou Dilma Rousseff no segundo turno. Ela aparece bem posicionada em pesquisas eleitorais recentes, mas é questionada por ter apoiado Aécio Neves, do PSDB, no segundo turno na eleição de 2014. O senador Randolfe Rodrigues, da Rede pelo Acre, jura que a candidatura de Marina em 2018 é fato consumado e que não haverá preconceitos para receber apoio. Por fim, o senador Cristovam Buarque, do PPS-DF, propõe que a esquerda deve sair debaixo da saia do PT e colocar em prática ideias novas. Seu argumento é o de que o PT asfixiou a esquerda em nome de uma postura eleitoralista e imediatista. “Deveríamos ter uma esquerda capaz de propor algo lá na frente”, ressalta. A discussão está só começando.
Nonato Guedes, com revista “ISTOÉ”