Eleito governador da Paraíba por duas vezes consecutivas, em 2002 e 2006, o atual senador Cássio Cunha Lima derrotou nas urnas, na segunda vez, a chapa encabeçada por José Maranhão, tendo como vice Luciano Cartaxo, então deputado estadual pelo PT. Com a sua cassação pela Justiça Eleitoral, Maranhão e Luciano foram chamados a completar o mandato, em fevereiro de 2009. Cássio vinha sendo preparado pelo pai, Ronaldo Cunha Lima, para ser candidato a governador já em 98. Foi atropelado dentro do PMDB pela candidatura de José Maranhão, que tinha direito à reeleição por ter assumido a titularidade com a morte de Antônio Mariz, de quem fora vice na campanha de 1994.
O grupo Cunha Lima sentiu-se preterido dentro do PMDB e a situação agravou-se com um incidente verificado no Clube Campestre, em Campina Grande, durante festa de aniversário de Ronaldo. Maranhão compareceu levando ordem de serviço para obras estruturantes na cidade, mas foi surpreendido por um discurso veemente de Ronaldo, que se queixava de desatenção por parte do governador e de desprestígio à sua liderança política, apesar do histórico de serviços prestados ao PMDB. Concluiu, inflamado e de dedo em riste, dirigindo-se ao governador e insinuando que se Maranhão não tivesse condições de governar o Estado deveria sair de cena e abrir espaço para outros protagonistas mais capazes. Do contrário, ele mesmo (Ronaldo) arrebataria o poder nas urnas para que a Paraíba voltassse a ser governável. O episódio cimentou o divisor de águas na política estadual e no PMDB. Os Cunha Lima migraram para o PSDB, arrastando políticos como Cícero Lucena, que foi prefeito de João Pessoa, vice-governador, governador titular e senador. Em 2002, Cássio foi candidato, já em outro ninho partidário – o tucano, e derrotou, no segundo turno, Roberto Paulino, então vice de Maranhão, que assumira com a renúncia deste para disputar o Senado e que encarou o desafio de dar combate ao herdeiro do “clã” Cunha Lima.
Em 2006, tendo como adversário maior o ex-governador José Maranhão, Cássio Cunha Lima derrotou-o somando votos de mais de um milhão de paraibanos. Seu candidato a vice foi o então deputado estadual José Lacerda Neto, indicado pelo PFL, que antecedeu o atual Democratas (DEM) na conjuntura política brasileira. No discurso, Cássio repetia que os desafios estavam sendo hercúleos mas também era enorme o seu entusiasmo para enfrentá-los. “O governo é o novo. A hora é de trabalho e união. Para o trabalho, eu me alisto; para a união, eu me ofereço”. E alertava: “A Paraíba é pequena demais para ser dividida”. Além das prioridades referentes a serviços essenciais, Cássio acenava com uma Paraíba moderna e competitiva, antevendo a inovação tecnológica. Externou consciência do ajuste fiscal imperioso ou inevitável, até como alternativa para que as finanças do Estado não fossem asfixiadas. Citando que a Paraíba estava transferindo à União mais de um bilhão de reais, comparou: “É o paciente anêmico, doando sangue em leito de UTI”. Deixou claro que, ousar, sempre, era a diretriz, a sua bússola. “Espero em Deus que este governo jamais cometa os erros da omissão ee o pecado da acomodação”. José Maranhão acusava Cássio de criar factóides e vender uma realidade apenas virtual, que, segundo ele, não refletia a verdadeira situação da Paraíba. O verdadeiro calvário de Cássio estava por vir – e se deu na esfera da Justiça Eleitoral.
Nonato Guedes