O presidente Michel Temer (PMDB), cuja contagem regressiva para o seu julgamento pela Câmara dos Deputados sob acusação de corrupção passiva já começou, divide com outros ex-quatro mandatários do país índices elevados de reprovação popular. Na semana passada, de acordo com institutos de opinião pública, o índice de aprovação do peemedebista atingiu sua marca histórica: 5%, o que levou a revista “Veja” a ironizar: “Enganou-se quem achava que a popularidade do presidente Michel Temer já havia batido no fundo do poço”. A impopularidade de Temer é atribuída ao desgaste causado por reformas polêmicas enviadas ao Congresso e que, segundo a oposição, retiram direitos adquiridos de trabalhadores.
Num comparativo feito pela própria revista “Veja”, os ex-presidentes José Sarney, Dilma Rousseff, Fernando Collor de Melo e até Itamar Franco (em cuja gestão foi concebido o Plano Real, de estabilização da economia) amargaram percentuais negativos de rejeição durante os respectivos governos. Diz a “Veja” que, tão ruim quanto a aprovação de Temer, só mesmo a de Sarney. Em setembro de 1989, quando a inflação chegou a 1700% ao ano, Sarney registrou o mesmo índice do atual presidente – 5%. José Sarney assumiu o cargo na condição de vice eleito em colégio eleitoral indireto, em 1985, com a morte de Tancredo Neves, que não chegou, sequer, a ser empossado. Teve como ministro da Fazenda o economista paraibano Maílson da Nóbrega. O governo Sarney chegou a experimentar lua-de-mel com a opinião pública quando colheu resultados favoráveis do chamado “Plano Cruzado”, mas isto durou pouco, uma vez que houve o recrudescimento da inflação, em níveis considerados alarmantes para os padrões vigentes até então.
Dilma Rousseff, primeira mulher eleita e reeleita presidente da República do Brasil, sofreu impeachment à frente do cargo no começo do segundo mandato por irregularidades administrativas envolvendo “pedaladas fiscais” detectadas pelo Tribunal de Contas da União. A sua pior taxa de popularidade girou em torno de 9%. Em dezembro de 2015, mês em que o então presidente da Câmara, Eduardo Cunha, aceitou o pedido de impeachment, a petista registrou aquele péssimo nível de aceitação, que a igualou, por sua vez, a Fernando Collor de Melo. Este foi o primeiro presidente da República eleito pelo voto, em 1989, com o fim da ditadura militar e também o primeiro governante a sofrer um processo de impeachment conduzido pelo Congresso Nacional por conivência com fraudes num esquema comandado pelo ex-tesoureiro de campanha, Paulo César Farias, que acabou sendo morto numa casa de praia em Maceió. Em setembro de 1992, Fernando Collor atingiu seu patamar mais baixo. O Congresso havia instaurado uma CPI para investigar o escândalo PC Farias, e jovens estudantes, que a imprensa apelidou de “caras-pintadas”, ocuparam as ruas pedindo o impeachment de Collor. Entre os líderes das manifestações estudantis figurava o então presidente da UNE, o paraibano Lindbergh Farias, atualmente senador pelo PT do Rio de Janeiro. Lindbergh divide bancada de senador com Fernando Collor. Por último, Itamar Franco cravou 12% de rejeição popular, um marco de popularidade mínima, em novembro de 1993, quando deputados da base aliada foram acusados de desviar recursos do Orçamento da União.
No que diz respeito ao presidente Michel Temer, que ascendeu com o impeachment de Dilma Rousseff, de quem era vice, seus aliados mais próximos sonham com a perspectiva de não acolhimento, pela Câmara, da denúncia oferecida contra ele, de corrupção passiva, pelo Ministério Público. Uma vez esgotado o processo desgastante, interpretam esses aliados, Temer estaria em condições de fazer o seu governo deslanchar melhor, reforçado por medidas que terão produzido reaquecimento da economia e queda no elevado índice de desemprego, o que já estaria sendo observado. Esses interlocutores sonham com a própria hipótese de Temer sair candidato à reeleição, o que, por enquanto, nem de longe é especulado ou cogitado em outras áreas políticas do país.
Nonato Guedes