Um dos primeiros a dar a notícia, em redes sociais, foi o colunista Abelardo Jurema Filho, do Correio da Paraíba: faleceu Goretti Zenaide, uma das mulheres pioneiras na ocupação de postos executivos em órgãos de comunicação da Paraíba e respeitada como colunista social, ultimamente atuando em A UNIÃO mas com passagens por O Norte, O Momento e revista Em Dia. Goretti Zenaide chegou a ser internada no hospital da Unimed devido a sérios problemas de saúde que culminaram com a sua morte.
A superintendente de A UNIÃO, Albiege Fernandes, postou mensagem em rede social destacando a competência e outras qualidades de Goretti Zenaide e o significado da perda de sua morte. O ex-marido de Goretti, Guy Joseph (da união nasceu Mário Eugênio, nome escolhido em homenagem a um jornalista assassinado em Brasília) e também parceiro de “Leta”, como era chamada pelos íntimos, em empreendimentos na área da comunicação e publicidade, lamentou profundamente a morte de Goretti.
Goretti Zenaide foi superintendente do jornal O Momento em 1987 e em menos de dois anos conseguiu colocar o veículo numa posição de destaque no cenário da Comunicação Social. A mesma desenvoltura foi revelada à frente do projeto editorial da revista “Em Dia”, vitoriosa publicação mensal, e como diretora da M & G Propaganda, empresa que dirigiu ao lado do sócio Guy Joseph. Num depoimento a Abelardo Jurema, publicado no livro “Paraíba Feminina”, Goretti, com sua franqueza habitual, considerava a liberdade de imprensa uma utopia, aludindo à dependência econômica enfrentada pela maioria esmagadora dos veículos de comunicação. Lamentou, também, falhas no Curso de Comunicação Social da UFPB, com prejuízo para a formação de profissionais da área no Estado. Caçula de uma família de quatro irmãos, filha de Hermano Nóbrega Zenaide e Cinira Guerra Zenaide, Goretti nasceu em Alagoa Grande, na usina Tanques, onde seu pai trabalhava como administrador da propriedade. Ainda criança, frequentou o colégio das Lourdinas, em João Pessoa, e aos nove anos viajou com a família para o Sul do país, onde viveu até a adolescência, parte no Rio, parte em São Paulo. Capricorniana, “signo da terra, dos pés no chão”, como disse Abelardo, Goretti somente voltou a João Pessoa quando o pai morreu em 1962, concluindo o curso clássico no Lyceu Paraibano. Com 19 anos, então, decidiu que a metrópole lhe oferecia melhores oportunidades de trabalho, regressando ao Rio de Janeiro onde passou no vestibular da Pontifícia Universidade Católica em nono lugar para o curso de Comunicação Social.
Nessa época, já se relacionava com o artista plástico Guy Joseph, que tentava a vida no Rio como estudante de artes gráficas. O casamento parecia uma consequência natural para a amizade prevalecente desde a adolescência e foi o que aconteceu tempos depois. A união durou 17 anos e o filho Mário Eugênio. No Rio, Goretti Zenaide dirigiu uma gravadora independente, a Musiquim, e, posteriormente, foi trabalhar no Ministério da Educação, na Fename, depois FAE, na gráfica que elaborava os livros didáticos do MEC. Foi, porém, na condição de secretária de uma grande empresa construtora, a Pronil, que ela desenvolveu seu potencial como executiva. “Lá foi a minha escola para aprender todos os segredos para a administração de uma empresa, sobretudo em relação a contabilidade e finanças”, lembrou Goretti, que em pouco tempo assumia a assessoria financeira da firma. Permaneceu vários anos na empresa até que em 1981 resolveu voltar a João Pessoa, junto a Guy Joseph, para começar tudo de novo. Fundaram a M & G Propaganda, numa época em que publicidade era confundida com picaretagem, como Goretti afirmou, destemidamente, no depoimento a Abelardo.
Ela mesma andava a tira-colo com o código de ética, regulamentando a profissão do publicitário, para forçar as empresas de comunicação ao pagamento das comissões a que tinha direito e que as empresas negavam-se a fazer. Com o tempo, como ela admitiu, essa mentalidade mudou e passou a haver uma profissionalização. Goretti defendia a propaganda como indispensável para as empresas, citando como exemplo a multinacional de refrigerantes Coca-Cola, “que investe somas elevadas em publicidade”. Ao assumir a superintendência do jornal “O Momento” em 1987, atendendo a convite do empresário João Furtado, ela considerou tratar-se de um grande desafio, já que teria a oportunidade de aplicar conhecimentos adquiridos ao tempo do Curso de Comunicação, como executiva. “Foi uma boa experiência”, avaliou Goretti, embora tenha enfrentado muitos problemas na direção do jornal, nos três anos em que esteve na sua direção, até o fechamento por inviabilidade econômica. “Aceitar o fechamento do jornal foi duro, frustrante”, comentou. E lamentava a falta de visão de empresários que não investiam nas próprias empresas, preferindo depender de governos. “Lamentavelmente um jornal não sobrevive na Paraíba sem a verba oficial”, frisou. Goretti chegou a fazer convocação a empresários paraibanos para participarem da vida pública do Estado. “Se isso acontecer, a Paraíba sai do buraco. Os empresários são mais competentes que os políticos e o que a Paraíba precisa é de bons administradores”, afirmou.
Goretti dedicava-se a causas sociais e a questões humanitárias, tendo aceito o convite para presidir a AMEM e passando a mobilizar segmentos da sociedade para o apoio e a solidariedade aos velhos carentes, muitos abandonados pelas famílias. Engajou-se, sempre que possível, em campanhas destinadas a somar forças em prol do atendimento às camadas mais carentes. Tinha uma visão extremamente crítica em relação à própria sociedade e nunca se intimidou em expor seus pontos de vista, sendo respeitada, exatamente, por esse perfil que a caracterizou. Apoiou, também, empreendimentos culturais e artísticos e eventos sociais/promocionais desenvolvidos na Paraíba.
Nonato Guedes