O presidente Michel Temer (PMDB) cumpriu uma vasta maratona de contatos políticos, ontem, em Brasília, como parte da estratégia para enterrar de vez a primeira denúncia da Procuradoria Geral da República. Ele é acusado de crime de corrupção passiva por supostamente ser o destinatário da mala com R$ 500 mil repassados pela JBS a seu ex-assessor Rodrigo Rocha Loures. Esta é a primeira vez que um presidente é denunciado no exercício do cargo. Ontem, Temer recebeu cerca de meia centena de políticos de diferentes partidos, almoçou com ruralistas e foi a um jantar para o qual haviam sido convidados 100 integrantes do chamado baixo clero.
O Planalto monitora de forma redobrada o cenário para a votação de hoje na Câmara, presidida por Rodrigo Maia (DEM), quando será decidido o prosseguimento ou não da denúncia, com vistas ao Supremo Tribunal Federal. Nos últimos dias, até mesmo opositores de Temer davam como certa a sua vitória no plenário da Câmara, mas o desfecho passou a ser imprevisível. A abertura da sessão extraordinária ocorrerá logo mais às 9h e serão permitidos discursos de parlamentares. O presidente deferiu demandas represadas de parlamentares, acenou com liberação de verbas e fez um apelo patético em nome dos “interesses do Brasil”, que estariam em jogo com o seu julgamento. Para que a denúncia contra Temer tenha continuidade, é necessário que haja pelo menos 342 votos “Não”.
Ex-vice-presidente de Dilma Rousseff (PT), que teve o seu impeachment decretado no Congresso, Michel Temer é tido como hábil negociador político e até mesmo se jacta disso, tanto que fez questão de conduzir pessoalmente as articulações de bastidores para enterrar de vez a denúncia contra ele. Mas o governo enfrenta problemas na base. A bancada do PSDB na Câmara decidiu que votará contra Temer e pelo prosseguimento da ação. 24 de 46 deputados declararam voto a favor da denúncia, mas esse número pode ser ampliado. Onze ministros que são parlamentares foram mandados de volta à Câmara como parte do rolo compressor montado por Temer para se segurar no poder. Até governadores petistas liberaram secretários-congressistas para votarem a favor de Temer. Emendas foram liberadas, cargos distribuídos a aliados e ameaças foram dirigidas a possíveis traidores. Temer havia sido vitorioso na apreciação da matéria na Comissão de Constituição e Justiça, mas, agora, a parada é mais complexa. Na tentativa de retardar o início da sessão, a oposição questionará o rito estabelecido pelo presidente da Câmara. Apesar de dúvidas com relação ao quórum, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM-RJ, afirmou que a votação da denúncia estará resolvida hoje à tarde.
Nonato Guedes, com agências e portais