O presidente Michel Temer (PMDB) conseguiu fazer funcionar o rolo compressor na Câmara Federal e barrar o processo que autorizaria o Supremo Tribunal Federal a investigá-lo por corrupção passiva, nos termos de denúncia oferecida pela Procuradoria-Geral da República. Em sessão que se estendeu pela noite de ontem, 263 deputados foram contrários à permissão para o Supremo Tribunal Federal analisar o caso, enquanto outros 227 se disseram favoráveis ao aval à acusação do MP que teve como base a delação de executivos da JBS. Estiveram ausentes da sessão histórica 19 deputados, que votariam com o presidente, e duas abstenções foram registradas.
O Palácio do Planalto pagou um alto preço para que o presidente Michel Temer não fosse molestado no exercício do cargo. O governo abriu um balcão de negociação de cargos e emendas dentro do plenário da Câmara em troca de votos para salvar o ex-vice-presidente da chapa encabeçada por Dilma Rousseff, do PT. Durante todo o dia de ontem, em Brasília, ministros e líderes governistas mobilizaram a máquina federal para atender deputados que se comprometessem a rejeitar a acusação. Em poucas horas o Palácio do Planalto calculava reservadamente que havia conseguido conquistar os votos de mais ded 20 “indecisos” ao atender a demandas do interesse deles.
Logo após o resultado da votação na Câmara, Michel Temer fez um pronunciamento oficial afirmando que a decisão do Parlamento não foi uma vitória sua ou uma conquista pessoal, mas uma conquista do Estado Democrático de Direito e da força das instituições. Para ele, a Câmara se manifestou de forma clara e incontestável. O presidente revelou que com o resultado vai seguir em frente com as ações necessárias para retirar o Brasil da mais grave crise econômica. Frisou que o governo deve criar condições para que o emprego nasça em um ambiente econômico propício, sem impedir ou criar obstáculos à iniciativa privada. O presidente afirmou que está modernizando as instituições. E exortou: “É hora de atravessarmos juntos a ponte que nos conduzirá ao grande futuro que o Brasil merece”. Ao barrar a denúncia, o presidente pretende reconquistar o apoio do mercado financeiro, fortalecer sua base de apoio para acelerar as reformas e manter o PSDB do seu lado.
Na semana que vem, Michel Temer se reunirá com líderes governistas no Congresso para montar um cronograma de votação e discutir que mudanças na reforma da Previdência são possíveis de ser aprovadas no curto prazo. A estratégia é enviar até agosto o texto da reforma tributária, que tem menor resistência na Câmara dos Deputados e no Senado, e, na sequência, em setembro, colocar em votação a reforma previdenciária. Temer deseja que esteja tudo finalizado em outubro. O presidente está agendando ainda uma série de encontros com empresários e investidores para vender a imagem de que tem força política para cumprir a promessa de realizar as reformas. O presidente quer aproveitar o que o Planalto chama de onda positiva com a derrota da denúncia da Procuradoria-Geral da República.
Nonato Guedes, com agências