Vencida a batalha inicial no plenário da Câmara sobre a sorte do presidente Michel Temer, denunciado pela Procuradoria Geral da República por corrupção passiva mas que teve a solidariedade da maioria dos parlamentares, discute-se em Brasília a ênfase na agenda política que precede a realização das eleições de 2018, quando estarão em jogo a presidência da República, governos estaduais e mandatos legislativos. O deputado federal paraibano Aguinaldo Ribeiro, líder do PP, que teve atuação decisiva nos bastidores esta semana para impedir o prosseguimento da investigação da PGR contra Temer, sugeriu, em entrevistas, que seja dada prioridade a outros temas por ele considerados urgentes, a exemplo da reforma política.
Ribeiro justificou que a reforma política nunca foi objetivamente encarada no âmbito do Congresso – quer na Câmara, quer no Senado, apesar da cobrança entre os próprios políticos para a implementação de mudanças que aprimorem o sistema vigente. O deputado salientou que o tempo é curto e que há prazo válido de apenas dois meses para que algum avanço ocorra na definição de regras para a realização das próprias eleições. Ele lembrou que inúmeras propostas tramitam, há vários anos, sem que tenham evoluído devido à falta de consenso entre as bancadas partidárias. Para o parlamentar, a reforma política pode deter a escalada de vícios e abusos em campanhas eleitorais, tornando as regras mais transparentes e motivando o próprio eleitor a se engajar ao processo.
No rescaldo da sessão que impediu o prosseguimento da investigação contra o presidente Temer, parlamentares paraibanos que se envolveram nas articulações repercutem os desdobramentos do processo, a exemplo da correlação de forças entre governo e oposição no Parlamento. O líder do Democratas, Efraim Filho, comentou que, ao contrário do que afirma, a oposição não tem 227 votos na Câmara, já que cerca de 90 votos foram de dissidentes da base aliada. Isto limitaria o contingente oposicionista a 140 sufrágios. Entre trinta integrantes da bancada, o Democratas de Efraim contabilizou apenas seis dissidentes. A “caça às bruxas” deflagrada pelo governo federal, reavendo cargos que estavam sob controle de deputados “infiéis”, afetou integrantes da bancada paraibana como Wellington Roberto, do PR, e Pedro Cunha Lima, do PSDB.
Pedro perdeu a indicação feita para uma diretoria do Ibama na Paraíba, mas procurou relevar a dimensão da retaliação imposta pelo Palácio do Planalto. Sobre o cargo perdido, asseverou: “Não é meu, é do governo”. E a respeito do seu voto a favor do prosseguimento da investigação do presidente Michel Temer, reiterou ter votado com sua consciência. “Não compete à Câmara dos Deputados decidir se o presidente seria ou não culpado. Este é o papel do Supremo Tribunal Federal. O mínimo que os deputados deveriam fazer seria autorizar a investigação por parte do Supremo, para elucidação de fatos e da própria verdade”. O deputado Wellington Roberto não se manifestou formalmente sobre a retaliação que sofreu da parte do governo Temer.
Nonato Guedes