Fiquei extremamente comovido com um telefonema do ex-governador Wilson Braga a pretexto de se informar como eu estou e, ao mesmo tempo, colocando seus préstimos à disposição. Para começo de conversa, devo lembrar aos desavisados que Wilson está sem a caneta do poder. Deu por encerrada a sua carreira política pelo mandato onde se iniciou, o de deputado estadual. Embora sensibilizado, cuido ser preciso dizer que, mesmo estando no poder, Wilson sempre se preocupou comigo. Há exemplos emblemáticos desse traço de solidariedade que até hoje tem pautado a trajetória do líder político saído do Vale do Piancó para ganhar o Palácio da Redenção ou fixar-se em Brasília, quando deputado federal. Da mesma forma, ele se interessa pela sorte de outros jornalistas que elegeu como amigos ou como pessoas dignas do seu amplexo.
No que me toca, para ressaltar o exemplo de que falei, a baliza da amizade de Wilson foi a campanha eleitoral de 1982. Eu era colunista político do “Correio da Paraíba” e abri amplos espaços para Antonio Mariz, que era candidato ao governo e que não lograra emplacar nem matérias pagas em alguns diários que formavam a nossa imprensa daqueles tempos. Fechadas as urnas, Wilson eleito por 151 mil votos de diferença, o “Correio da Paraíba” agradeceu meu trabalho e…me dispensou. A lógica de cúpula era a de que eu seria empecilho para o projeto de composição com o poder de plantão, a ser enfeixado por Wilson no começo do ano seguinte ao pleito, porque teoricamente eu estava carimbado como voluntário da tropa marizista que ficou abatida pelo meio do caminho, nos escombros da peleja de 82. Não me engajei em palanque de Mariz. Em meus comentários políticos, optei mais por exaltar qualidades de Mariz do que procurar defeitos na trajetória de Braga.
Demitido mas não desempregado – eu ainda era correspondente do jornal “O Estado de São Paulo” na Paraíba, eis que me surpreendo com uma ligação do governador já eleito, Wilson Braga. Principiou a conversa indagando se era verdade que eu fora demitido do “Correio”. Disse-lhe que sim. “Mas você sabe que não tive nenhuma ingerência nisso”, emendou Braga, ao que redargui: “Saber eu não sei. Tenho certeza”. Ele observou, então, que embora supostamente eu tenha denotado simpatia por Mariz, não hostilizei a ele, Wilson, nas entrelinhas da minha coluna. E, na sequência, convidou-me para ser editor de “A União”, vinculado ao então titular da Comunicação, Luiz Augusto Crispim. Foi uma deferência e tanto. Wilson quebrou a praxe cujo enredo sinaliza que o vencedor de uma eleição fique num pedestal, daí fazendo a triagem, “motu próprio”, dos verdadeiros amigos com que contou na campanha. Sabem aquele filmezinho que vai se desenrolando na cabeça do vitorioso? Pois então! Com Wilson, o tal filmezinho não rolou. Ele sempre conheceu como poucos os caminhos da Paraíba e as pessoas que nela habitam.
Fui para “A União” debaixo de insinuações de que acabara de cair o último dos moicanos – entendidos como os combatentes que porfiaram ao lado de Antônio Mariz. Aceitei o desafio de ir editar um jornal oficial. O superintendente era Deoclécio Moura, figura de fino trato, profissional consciente das suas limitações e figura desejosa de aprender os meandros de outras atividades com que não tinha a menor intimidade ou aproximação. Deoclécio deu-me carta branca para tocar “A União” e isto facilitou em muito o trabalho em equipe que realizamos. Há inúmeros outros episódios marcantes, com a assinatura inconfundível de Wilson Braga. Sempre me impressionou essa sua capacidade de manter amizade acima de posições políticas ou ideológicas. No final do telefonema que teve a gentileza de protagonizar, Wilson intimou: “Precisamos nos encontrar”. A admiração pelo líder humanista que Wilson Braga sempre foi se mantém intacta. Ele continua coerente em relação às suas amizades – disputas políticas à parte.
Por Nonato Guedes