A deputada federal Luíza Erundina (PSOL-SP) afirmou, numa entrevista a Marcelo Moura, da revista “Época”, que é contrária à adoção do chamado “distritão” por entender que se trata de uma proposta injusta. “É a pior solução política porque é uma solução atrasada, que existe apenas em quatro países no mundo. O Brasil, com seu nível de complexidade, com sua diversidade, com os graves conflitos que tem, não pode ter uma solução tão simplista. O distritão é um sistema muito excludente. Vai excluir a juventude, não vai renovar a política. Com ele, vão se reeleger os de sempre”, alertou Erundina, que é natural da Paraíba mas atua politicamente em São Paulo, de cuja Capital foi prefeita.
– Se o distritão for aprovado – prossegue Erundina – vão se eleger os mais famosos, os que têm mais poder econômico ou político. Grandes figuras da política, do esporte, apresentadores…Um corrupto conhecido terá mais chances do que um novato honesto, com novas ideias. Esse novo sistema não oferece a possibilidade de renovação dos partidos. Até porque não restaria nenhuma referência a partidos. É como se cada candidato fosse seu próprio partido. O projeto do distritão restringe a representação das minorias e acaba com a cota de 30% das candidaturas para mulheres. É um modelo elitista.
A deputada Luíza Erundina reconhece que o sistema atual é confuso e desconhecido, mas observa que apesar de confuso o atual quociente permite que a Câmara represente quase todos os segmentos da sociedade, enquanto no distritão os votos insuficientes para eleger um candidato serão jogados fora. “No atual sistema proporcional, mesmo um partido pequeno consegue duas, três cadeiras na Câmara. A soma de votos dadas ao partido é grande o bastante para ele merecer representação, embora nenhum de seus candidatos consiga uma votação extraordinária”. Para Erundina, a grande distorção da atual conjuntura se deve às coligações. “Com elas, o eleitor escolhe o candidato de um partido e seu voto acaba elegendo um nome de um partido coligado, sem identidade. Claro que eu defendo o fim das coligações. Essa parte da proposta de reforma, a gente apoia”.
Ela conclui declarando que não há dúvidas de que o sistema atual precisa ser revisto. “Tem de revisar muitas coisas, e outras já foram revisadas. Em 2014, era permitido o financiamento por empresas. Deu no que deu. Isso, o Supremo Tribunal Federal proibiu, ainda bem. Tem de haver mudança na democracia interna dos partidos para acabar com o caciquismo. O distritão, ao contrário, reforça o caciquismo. Num momento de crise econômica, estão criando um fundo eleitoral público de R$ 3,6 bilhões. Esse dinheiro será gerenciado pelos dirigentes nacionais dos partidos e não há garantia de que haverá qualquer controle”. Por sua vez, o deputado federal Miro Teixeira, do Rede-RJ, é plenamente favorável ao distritão. E explica: “No distritão, o eleitor escolhe o candidato. O voto não ajuda a eleger outros. Em dez vagas, entram os dez mais votados”.
Nonato Guedes, com “Época”