As redes sociais têm parecido cada vez mais aquelas histórias que nossos pais contavam de nossos antepassados, onde todo mundo era brabo e às vezes um desafiava ao outro: fazia um risco com a faca no chão e quem ousasse pisar naquele risco seria alvo de agressão. O risco da vez ontem foi a polêmica entre nazismo e socialismo. Os dois são a mesma coisa? Um é coisa de direita; outro de esquerda? O avanço da direita nos Estados Unidos, com os recentes episódios acontecidos em Charlottesville, serviram para acirrar as discussões.
A polêmica tem a ver, na verdade, com as discussões que vêm tomando às redes sociais desde o início do processo que culminou com o impeachment da presidente Dilma Roussef: coxinha e mortadela ou direita e esquerda. Jornalista que já trabalhou no Globo e é professor e pesquisador de relações internacionais na UFRJ, Leonardo Valente foi taxativo sobre a questão: Recuso-me a explicar para quem quer que seja que Nazismo não é de esquerda. Nem livro eu recomendo, mando ralar nas ostras.
Para o escritor Zenir Campos Reis, ”Racistas”, “supremacistas”, “nazistas” são nomes do mesmo grupo. No Brasil, podem ser chamados também “pessoas de bem”, ironizou. A escritora Letícia Palmeira comentou, ao falar do avanço da direita nos Estados Unidos: Quando leio nazistas dos Estados Unidos sinto uma estranheza sem tamanho. As pessoas estão sempre me deixando constrangida. Sinto vergonha. O professor Carlos André Cavalcanti, da UFPB, também se pronunciou sobre o tema: A direita vai chegando ao poder pela urna (EUA) ou na marra pelo Golpe (Brasil) e os liberais democratas de direita vão sendo candidamente estuprados sem dizer um pio pela direita fascista, que poderá hegemonizá-los breve. Seria a realização da velha tese de que toda a direita é protofascista? Sinceramente, em nome do nosso futuro, espero que NÃO!!!! Charlottesville fica onde fica a intolerância. E a jornalista Vall França sentenciou: Brasil, lugar onde: pobre é liberal, mulher é misógina, latino é supremacista, nazismo é de esquerda e querem voltar a ditadura.
O jornalista Frutuoso Chaves não deixou de expor sua opinião sobre o tema: À beira dos 50 anos de jornalismo, pouca coisa terá me chocado tanto quando este flagrante das recentes manifestações da extrema direita, em Charlottesville, cidade da Virginia, nos Estados Unidos. Uma mãe orgulhosa fotografa o filho pequeno, por ela enfiado numa mortalha da Ku Klux Klan, a fim de provocar policiais negros e submissos. Enxergo nesta foto a perversidade expressa em retratos de crianças africanas esqueléticas, ou do corpo daquele menino sírio tangido a uma praia mediterrânea depois do afundamento de barcos com famílias em fuga da crise do Oriente Médio. E não deixo de pensar no preconceito de que são vítimas milhões e milhões de nordestinos num Brasil que acaba de reingressar no mapa da fome da ONU, ante o cúmplice silêncio das nossas elites.
Nesta divisão entre esquerda e direita, quase não sobrou espaço para outro tipo de discussão ou de comentário nas redes sociais. A morte do pesquisador de quadrinhos Álvaro de Moya, por exemplo, quase passa despercebida, sendo citada por poucos internautas, como o jornalista Renato Félix: Ele é um cara muito importante para minha cultura de quadrinhos, disse.
Linaldo Guedes