O deputado federal Jair Bolsonaro é um caso atípico na política brasileira atual. Atrai a ira da esquerda e mesmo assim aparece bem colocado nas pesquisas, embora poucos formadores de opinião assumam publicamente que pretendem votar nele. Ontem mais uma vez Bolsonaro foi um dos assuntos mais comentados em redes sociais, especificamente por dois motivos: uma nova pesquisa que o coloca novamente em segundo lugar nas intenções de votos para presidência da República e o desenlace do processo movido pela deputada Maria do Rosário, do PT do Rio Grande do Sul.
Este último caso gerou diversas comemorações nas redes sociais. É que o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a condenação do deputado Jair Bolsonaro pelas ofensas dirigidas à também deputada Maria do Rosário (PT-RS). Bolsonaro foi condenado pelo Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TJ-DF), em 2015, a pagar indenização de R$ 10 mil à petista por danos morais, mas recorreu. Vocês devem estar lembrados que em 2014, Bolsonaro afirmou que Maria do Rosário não merecia ser estuprada porque ele a considera “muito feia” e a petista não faz o “tipo” dele. Acho um absurdo só agora isso ter sido resolvido. Algo que rolou em 2014, questionou a poeta Débora Gil Pantaleão.
Outros usuários da rede foram da comemoração ao questionamento pelo tamanho da punição. Escritora, colunista do Wscom, Ana Adelaide deu vivas à decisão do STJ. Jornalista e professor, Lúcio Vilar considerou a decisão da Justiça uma derrota importante para o dito cujo que almeja ser o ovo da serpente. Já a poeta Adriana Machado considerou a punição pequena: Apologia do estupro: 10 mil reais a multa. Muito pouco. Muito pouco. Quase nada.
Mas Bolsonaro foi destaque, também, por outro assunto. A nova pesquisa sobre a corrida presidencial divulgada ontem, pelo instituto DataPoder360, apontou Marina Silva com apenas 3% de intenções de voto. Em todos os cenários, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera, passando de 26% para 32%. O deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ) também cresceu, passando de 21% a 25%, e se consolidou na segunda posição, no cenário em que Geraldo Alckmin, com 4%, é o candidato do PSDB.
Sobre essa pesquisa, vale reproduzir o comentário do professor e cientista político Flávio Lúcio Vieira, exposto em sua rede social: A pesquisa divulgada hoje pelo site Poder360 consolida a polarização já há algum tempo anunciada e, ao que parece, em vias de se consolidar: Lula x Bolsonaro. Numa conjuntura tendente à dispersão política do eleitorado em razão da desorientação e da desilusão atuais, Lula e Bolsonaro são os únicos que demonstram ter um eleitorado cativo, um piso de onde as duas candidaturas partirão para a disputa. As duas irreconciliáveis candidaturas se alimentaram mutuamente: se Bolsonaro encarna cada vez mais o antilulismo, a rejeição a Bolsonaro e às suas posições tenderá daqui para frente a converter Lula no candidato antibolsonaro. Isso provavelmente beneficiará Lula, mas será péssimo para a democracia brasileira, dentro da qual um setor expressivo do eleitorado mostra clara simpatia a um candidato movido a ódio e preconceito. A pesquisa, por outro lado, mostra que a exclusão de Lula da disputa se no curto prazo beneficia Bolsonaro, que chegaria a um percentual de 27% quando Geraldo Alckmin é apresentado como candidato do PSDB – quando o candidato é João Dória, o percentual de votos de Bolsonaro vai pra 18%. Nesse quadro, Ciro Gomes vai a 9% e Fernando Haddad a 5% – a soma dos dois vai a 14%, um percentual expressivo que me leva a concluir que, mesmo com Lula fora da disputa, a esquerda não está fora do jogo.
Linaldo Guedes