Conhecida como “terra da Cultura” ou “cidade que ensinou a Paraíba a ler”, Cajazeiras completa hoje 154 anos de emancipação política ou fundação, conservando a forte tradição nas áreas cultural e da educação, como pólo de irradiação para outros centros importantes do Nordeste brasileiro. Situada no Extremo Oeste da Paraíba, na divisa com Estados como Ceará e Rio Grande do Norte, Cajazeiras nasceu à sombra de um colégio e sob o signo da religiosidade, mercê dos ensinamentos do padre Inácio de Souza Rolim, que fez história como desbravador do ensino em épocas remotas. Nesse ínterim, a cidade procurou acompanhar a evolução do Estado e do País, sem jamais deixar de investir no aspecto educacional, de que é exemplo a proliferação de Faculdades e “campi” universitários que atraem legiões de estudantes das mais longínquas regiões brasileiras.
A cidade é administrada atualmente pelo médico José Aldemir Meireles, que se elegeu prefeito em 2016 concorrendo pelo PP (Partido Progressista) e derrotando a então prefeita Denise Albuquerque (PSB), primeira mulher a ascender ao comando da municipalidade cajazeirense em mais de um século e meio de história. A atual administração assegura ter compromisso com investimentos em obras de infraestrutura e com geração de oportunidades de emprego e trabalho para habitantes da terra do Padre Rolim, como é também denominada. O governador Ricardo Coutinho (PSB), mesmo com a derrota da sua candidata à reeleição, não tem deixado de investir em Cajazeiras, que busca seu crescimento em termos comerciais e econômicos. O historiador Chagas Amaro destaca como uma das características de Cajazeiras o que chama de “bairrismo salutar”, que segundo ele fica demonstrado nos embates decisivos para conquistar melhoramentos para a cidade. “É em ocasiões como essas que fica patenteado o congraçamento, refletindo o orgulho natural dos cajazeirenses e “cajazeirados”, estes últimos assim denominados por se tratarem de não-nascidos em Cajazeiras mas que a adotaram como sua terra-mãe”, explica o professor, radialista e homem público.
Sede de Diocese e exportadora de talentos para os segmentos de arte & cultura, bem como pródiga em valores da radiofonia e do jornalismo que atuam além-fronteiras, Cajazeiras ainda recentemente brilhou nas telas da TV Globo com a participação de atores e atrizes, filhos da terra, na novela “Velho Chico”, que se desenrolou às margens do rio São Francisco. O município é beneficiado, paralelamente, pela transposição de águas do “Velho Chico”, projeto deflagrado na gestão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Entre as celebridades nativas da terra da Cultura destaca-se a atriz Marcélia Cartaxo, primeira brasileira a ser premiada com o Urso de Prata no Festival de Cinema de Berlim, na Alemanha, interpretando um personagem clássico – Macabea, no filme “A hora da Estrela”, de Suzana do Amaral, baseada em livro de Clarice Lispector. Mas há outros artistas renomados como o ator e teatrólogo Ubiratan di Assis, Buda Lira, Soia Lira, Clizenith Assis, Carlos Alberto Assis Montenegro e uma nova geração vinculada ao teatro e ao cinema. Um filho ilustre de Cajazeiras, Ivan Bichara Sobreira, foi governador da Paraíba a partir de 1975, escolhido por via indireta, regra marcante no regime militar, que ainda vigia, embora ensaiando passos de descompressão política no país. Ivan Bichara é tido como um dos benfeitores de Cajazeiras, ao lado de governantes como João Agripino Filho, Ernani Sátyro, Wilson Braga e de parlamentares como Edme Tavares de Albuquerque, já falecido, que levou para a cidade uma Escola Técnica Federal.
Autora do livro “Cajazeirenses & Cajazeirados”, escrito em parceria com Delmira Pires e Agnaldo Rolim, a jornalista Lúcia Rolim Guimarães destaca outra qualidade inata ao povo cajazeirense: a tradição de hospitalidade. Para ela, a cidade tem um carisma próprio que a diferencia de outras localidades, até mesmo de Capitais importantes do Brasil. Lúcia Rolim se diz fascinada com a trajetória de personalidades como o padre Inácio de Sousa Rolim, que ela considera “O Anchieta do Nordeste” e o define como protagonista de uma saga importantíssima para as vitórias acumuladas ao longo dos séculos. Já Ubiratan di Assis enaltece a garra do povo cajazeirense e destaca, em particular, a criatividade, “que produz pessoas folclóricas dignas dos melhores romances da literatura universal”. Para ele, a tradição cultural de Cajazeiras tem tido grande peso, “praticamente sendo a mola-mestra a impulsionar a expansão do progresso da cidade”.
Nonato Guedes