A crise do abastecimento de água à população de Campina Grande, segunda cidade mais importante da Paraíba, tornou-se uma disputa política durante o dia de ontem envolvendo, de um lado, o governador Ricardo Coutinho, do PSB, e, de outro, adversários políticos, a exemplo do prefeito da cidade, Romero Rodrigues, do PSDB, que aspira a ser candidato ao governo do Estado em 2018. O impasse provocou repercussão negativa junto aos habitantes da Rainha da Borborema e a outros segmentos formadores de opinião no Estado. Teve, também, um componente jurídico, com a intervenção de magistrados na adoção de medidas controversas sobre o racionamento de água.
No final da manhã, houve uma entrevista coletiva convocada pelo governador Ricardo Coutinho para anunciar a antecipação para sexta-eira do fim do racionamento de água, adotado em dezembro de 2014 não só em Campina Grande como em outras cidades próximas. A decisão contrariou posições do prefeito Romero Rodrigues (PSDB), de empresários de sua base política, membros do Ministério Público Estadual e da Defensoria Pública. No começo da tarde, atendendo a um pedido formulado na semana passada, a juíza Ana Carmen Pereira Jordão deferiu liminar à Defensoria Pública mantendo o racionamento nos municípios abastecidos pelo açude Epitácio Pessoa, o Boqueirão. A magistrada alegou que a retirada do racionamento poderia agravar a situação de crise hídrica na região.
A juíza sentenciou: “Num primeiro exame, percebe-se que além dos impactos ambientais, há, também, repercussão social da medida. Ora, com a suspensão do racionamento de água, poderá ocorrer agravamento da já latente crise hídrica, o que, evidentemente, poderá ser demonstrado de forma contrária no decorrer da instrução através de laudos técnicos”. Na determinação, a magistrada igualmente fixou multa diária de R$ 500 mil para qualquer órgão que a descumpra. O Procurador Geral do Estado, Gilberto Carneiro, informou que o governo recorrerá da decisão tão logo seja notificado. O governador Ricardo Coutinho assegurou que determinou a suspensão do racionamento porque as condições são adequadas para tanto. Expôs notícias jornalísticas sobre o fim do racionamento, que se tornou possível apenas após sair do volume morto, o que aconteceu, ontem. Na semana passada os Ministérios Públicos Estadual e Federal divulgaram documento do Ministério da Integração, assegurando que haveria apenas segurança hídrica com 97 milhões de metros cúbicos. Ontem, Boqueirão chegou a 33,86 milhões de metros cúbicos.
O prefeito Romero Rodrigues qualificou de “insulto ao povo” a decisão de acabar com o racionamento de água. De acordo com ele, houve uma tentativa de promoção política em cima do sofrimento do povo. O alcaide afirmou que a redução no volume de água é culpa direta do governo do Estado que, a seu ver, não está cumprindo o dever de casa nem outras obrigações para equacionar o problema da segurança hídrica. “Ao invés de estar anunciando o fim do racionamento, o governador deveria anunciar um plano de gestão das águas, desde Monteiro até Boqueirão, no açude Epitácio Pessoa. O que há é desvio de água, é desperdício por parte de uma empresa que todo mundo sabe que gere mal a questão das águas na Paraíba, que é a Cagepa”, enfatizou. Por sua vez, o governador Ricardo Coutinho reagiu com veemência: “Para alguns da política, que se acham donos de cidades inteiras, o que interessa é simplesmente aproveitar o sofrimento do povo para debitar nas costas dos adversários. Ou seja, eles não querem que as pessoas sejam felizes”.
Nonato Guedes