Em conversa, por telefone, ontem à noite, o jurista paraibano Luciano Mariz Maia revelou que está participando de reuniões com a nova equipe da Procuradoria Geral da República, comandada pela doutora Raquel Dodge, que deverá ser empossada no dia 18 de setembro, substituindo ao atual Procurador Rodrigo Janot e sua equipe. Luciano, que foi anunciado por Raquel como vice-procurador na sua gestão, explicou que em virtude da fase de transição que está ocorrendo, com a coleta de informações acerca das pendências em tramitação na PGR, não acha de bom tom dar declarações ou fazer comentários em torno de temas controversos.
– Estamos tendo um conhecimento maior, mais completo, de dados essenciais ao trabalho da Procuradoria, e o bom senso recomenda cautela, e não açodamento, na publicização de informações – salientou Luciano à reportagem de “Os Guedes.com.br”, pedindo compreensão diante da conjuntura e prometendo que no momento oportuno poderá se manifestar. Ele passou a impressão de que se sentiu honrado com a sua escolha para compor a equipe da Procuradoria Geral da República, ponderando que vários nomes de reconhecido mérito chegaram a ser cogitados no noticiário que precedeu ao anúncio oficial feito pela Procuradora Raquel Dodge. Da mesma forma, sentiu-se regozijado com as manifestações de receptividade à sua escolha que ecoaram em diferentes segmentos da sociedade paraibana.
Luciano Mariz Maia, que é natural da cidade de Pombal, possui um alentado currículo profissional, com passagem por funções importantes na Paraíba, não só na esfera do Judiciário, tendo sido secretário de Governo no segundo mandato do ex-governador Tarcísio de Miranda Burity, na década de 80. A sua formação jurídica em termos acadêmicos foi conquistada com brilhantismo a partir da Universidade Federal da Paraíba, com especializações em centros universitários influentes do País, nos quais pontificou com dissertações sobre temas complexos como a institucionalização da tortura e o modus-vivendi de comunidades ciganas. Luciano projetou-se em centros universitários da Inglaterra e de outros países. Seus colegas de atuação na Paraíba referem-se a ele como um profissional aplicado e preparado, que sempre se dedicou com afinco às causas vocacionais que empalmou, também desincumbindo-se de forma proeminente no exercício de missões que lhe foram delegadas.
Fase tumultuada – A imprensa do Sul tem destacado que a fase de transição no âmbito da Procuradoria Geral da República tem sido, de certa forma. tumultuada. A revista “ISTOÉ” publicou uma reportagem de capa na edição desta semana aludindo a um suposto esquema do PT no Ministério Público. A matéria insinua que, contrariando a força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, o ainda procurador-geral da República Rodrigo Janot montou uma ação paralela para inviabilizar delações que atingiriam o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e favorecer aquelas que poderiam implodir o PMDB do presidente Michel Temer. Na origem do conflito está o desapontamento de Rodrigo Janot com a sua não-recondução à titularidade da Procuradoria Geral da República. Raquel Dodge não foi a mais votada na lista submetida à apreciação do presidente Temer, mas o mandatário peemedebista optou por ela e deu-lhe carta branca para atuar no enfrentamento dos desafios que cercam a PGR na quadra institucional que o País vive.
De acordo com a “ISTOÉ”, apesar da sua estratégia no sentido de proteger petistas no apagar das luzes do mandato, Rodrigo Janot está cada dia mais isolado. Uma denúncia levada ao conhecimento de Raquel Dodge dá conta de que Janot e sua equipe desenvolveram um roteiro paralelo às investigações da Lava-Jato com o objetivo de beneficiar o PT e seus principais líderes. Nos últimos dias, sem a anuência da turma de Curitiba, o grupo do procurador-geral resolveu protelar a homologação da delação da OAS, cujo conteúdo – que seria “nitroglicerina pura” para Lula e o PT – já está à disposição da PGR para ser encaminhada ao STF há mais de dez dias, dando prioridade máxima à conclusão de acordos compulsórios com o ex-deputado Eduardo Cunha e o doleiro operador do PMDB, Lúcio Bolonha Funaro. O objetivo da ação seria o de fortalecer uma suposta nova denúncia contra o presidente Michel Temer. Os aliados de Janot querem, a qualquer preço, que as delações de Funaro e Cunha envolvam Temer e a cúpula do PMDB, mesmo que para isso tenham que agir ao arrepio da lei.
Diz textualmente o texto assinado por Mário Simas Filho na revista ISTOÉ: “Os interlocutores de Raquel Dodge enxergam nos métodos nada ortodoxos do time de Janot um movimento claro, objetivo e muito bem direcionado, mas de fins nada republicanos: um esquema montado e conduzido pelo procurador-geral da República destinado a favorecer o ex-presidente Lula e os principais líderes petistas nos processos em que são alvos. Ou seja, as delações da OAS que comprometem definitivamente Lula e Dilma e narram detalhes sobre o tríplex no Guarujá e o sítio em Atibaia, casos em que o ex-presidente já é réu, ficam para as calendas gregas. Já as delações ainda sem provas concretas que possam comprometer o presidente Michel Temer e seus aliados são aceleradas. O esquema funciona desde meados de 2015”. É em meio a esse fogo cruzado que o paraibano Luciano Maia prepara-se para ascender à vice-procuradoria geral da República, tornando-se um dos principais interlocutores da Procuradora-Chefe Raquel Dodge.
Por Nonato Guedes