Ao ensejo da celebração dos 75 anos de Ordenação presbiterial de dom José Maria Pires, no dia 20 de dezembro de 2016, a Arquidiocese da Paraíba, então titulada pelo administrador apostólico dom Genival Saraiva de França, publicizou “O Sacerdote, Imagem de Cristo”, contendo reflexões sobre a missão do padre desenvolvidas por dom José, que faleceu ontem à noite em Belo Horizonte. Dom Genival lembrou que durante o longo e frutuoso exercício do ministério sacerdotal, dom José teve incontáveis ocasiões de falar e de rezar com inúmeros ministros ordenados, trazendo-lhes uma palavra apropriada em cada situação concreta, “graças à sua sólida formação humanística, à sua ciência teológica, à sua espiritualidade sacerdotal, à sua prática pastoral e ao seu testemunho ministerial”.
Para dom Genival, a alegria de dom José “de ser padre” foi expressa na contagem dos seus 75 anos de vida sacerdotal e com a disponibilidade identificada em seu coerente ministério presbiterial e episcopal. Dom José pregava que a disponibilidade pastoral dos religiosos deveria ser de vinte e quatro horas por dia e citou como um exemplo o padre Alfredo Barbosa, que atuou na paróquia de Cabedelo, ali deixando obras marcantes de alcance social. Na sua reflexão, dom José aludiu à renovação trazida para dentro da Igreja pelo Concílio Vaticano Segundo e definiu a pastoral como o eixo da formação presbiteral. “O pastor deve formar e manter unida a comunidade”, disse, alertando, também, para a necessidade do engajamento em causas contra as injustiças sociais praticadas. “O clero não pode concordar com uma ordem na qual só alguns têm direito de possuir uma casa decente, enquanto outros tantos sequer conseguem dar a educação básica para seus filhos”.
– Uma nova cultura precisa ser implantada pelos discípulos de Jesus, que quer que sejamos “sal da terra e luz do mundo” – enfatizou dom José, pontuando mais: “Nosso pecado pessoal é que nos preocupamos mais com uma religião exterior, uma religião que nos tranquilize, nos dê paz, do que com a prática do amor. O amor não tem sido para nós o grande, o novo mandamento. Não temos sido capazes de realizar em nossos lares e em nossa sociedade a inculturação do Evangelho. Por isso não temos tido êxito no confronto inevitável com os males da modernidade, com os perigos que circundam as novas gerações. Que males? E que perigos? O mal de não sermos mais irmãos. O mal de não sermos mais capazes de olhar o desconhecido com admiração e alegria, mas, antes, com medo e desconfiança. O perigo de nos tornarmos lobos até para cordeiros inofensivos. (…) A mídia é um reflexo da sociedade; leva para a tela expressões da vida real. E a vida real tem mostrado que quem tem dinheiro, quem tem status, fica impune. Pode matar, pode estuprar, pode roubar, pois sempre haverá um jeito de livrar-se da cadeia ou de cumprir uma pena simbólica. A vida real mostra que não há igualdade de direitos e de oportunidades para todos os cidadãos. A vida real apela constantemente para o consumismo, o lucro fácil, a competição, o marketing, a violência – raciocinou dom José Maria Pires.
Na conclusão de sua avaliação, dom José Maria Pires afirmava que a missão do sacerdote hoje é arrancar e destruir a contracultura vigente para edificar e plantar ou replantar os valores evangélicos. “Hoje, a situação é, em certos aspectos, bem pior do que a dos primeiros séculos do Cristianismo. Mas, também, os cristãos são mais numerosos e estão presentes em todos os espaços da sociedade. Com o protagonismo dos leigos, podemos levar a cultura cristã a todos os ambientes e a todos os meios de comunicação, estejam ou não em mãos de católicos”. E arrematou: “O sacerdócio não é carreira, não é profissão, é missão, é serviço à comunidade e ao mundo que Jesus veio salvar”.
Nonato Guedes