O primeiro pronunciamento de dom José Maria Pires ao chegar em João Pessoa para investir-se na Arquidiocese Metropolitana deu-se em frente ao Palácio do Carmo, na Praça Dom Adauto, em 26 de março de 1966. Ele foi recepcionado na entrada da cidade por uma comitiva de autoridades, tendo à frente o governador João Agripino Filho e foi saudado por populares no trajeto feito até o centro da Capital. Começou sua alocução pontuando: “Ao pisar pela primeira vez o solo paraibano, parece-me ouvir o eco das palavras dirigidas pelo Senhor a Moisés: “Tira as sandálias dos teus pés porque é santa a terra em que pisas”.
Dom José, involuntariamente e no calor da emoção, equivocou-se e ao invés de saudar a padroeira Nossa Senhora das Neves dirigiu-se à primeira-dama do Estado, Lourdes Bonavides, esposa do governador João Agripino. Avisado da gafe, penitenciou-se perante o governador e a primeira-dama. Filho de Eleutério Augusto Pires e Pedrelina Maria de Jesus, José Maria Pires nasceu em 15 de março de 1919 em Córregos, Minas Gerais, pertencente ao município de Conceição de Mato Dentro, no centro daquele Estado. A família tinha origens humildes. O pai era descendente de portugueses e sua mãe descendente de africanos e ciganos. O senhor Eleutério trabalhava como carpinteiro e dona Pedrelina exercia atividades domésticas. Numa família de seis filhos, José Maria partilhava de um ambiente marcado por grande simplicidade e ainda por fortes sentimentos religiosos, como afirma o professor Vanderlan Paulo de Oliveira Pereira, autor de dissertação acadêmica no âmbito do programa de Pós-Graduação em História da UFPB.
Uma pessoa que exerceu forte influência sobre a educação e religiosidade de dom José foi sua madrinha de batismo Maria da Glória Oliveira. Desde cedo, foi uma das principais motivadoras das questões vocacionais. Certa feita, José Maria Pires entrou na casa da madrinha depois da missa e, na frente de outras pessoas, disse: “gente, eu quero ser padre”. Todo mundo riu, achou que era brincadeira. Contou, depois, dom José, que ficou sem graça. Sua madrinha, então, o chamou a um canto e disse: “José, você falou uma coisa muito importante. E ele: “Mas eu quero ser padre”. A madrinha, então, disse: “Não precisa chorar, não. São José é o padroeiro das vocações sacerdotais. Então, todo dia você reza para São José para ver se encaminha isso”. Com dez anos, José saiu de Córregos para Diamantina, antes de entrar no seminário dessa cidade.
José Maria Pires viveu no seminário dos onze aos vinte e dois anos de idade. De 1931 a 1942 o jovem José Maria Pires foi conviver, em Diamantina, com os seminaristas de várias cidades do Estado de Minas. Enfrentou conflitos e dificuldades pela condição de negro num seminário predominantemente marcado pela presença dos brancos e regido por eles. Em Diamantina, José Maria Pires teve contato com uma formação orientada pelos padres lazaristas. Os estudos filosóficos aconteceram em 1936 e 1937. Ele foi ordenado com apenas 22 anos de idade, no dia 20 de dezembro de 1941. Após dois anos como formador no seminário de Diamantina, ele se torna o primeiro vigário de Travessão de Guanhães, atual cidade de Açucena. Depois, foi líder espiritual do povo de Curvelo. Foi sagrado bispo em 22 de setembro de 1957 em Diamantina, assumindo a diocese de Araçuaí, no Vale do Jequitinhonha. Para ele, o Concílio Ecumênico Vaticano II foi um marco no campo dos avanços da Igreja em seu diálogo com o mundo moderno.
Nonato Guedes