O governador Ricardo Coutinho (PSB) expressou, ontem, em redes sociais, sua consternação com a morte de dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba, destacando sua coragem nas lutas que encampou em defesa dos setores marginalizados da sociedade paraibana. Dom José faleceu ontem à noite num hospital em Belo Horizonte, Minas Gerais, aos 98 anos, vítima de problemas pulmonares. Por trinta anos esteve à frente da Arquidiocese da Paraíba. Veio de Minas Gerais em março de 1966, transferido da diocese de Araçuaí, ao norte do Estado, numa conjuntura especial quando terminou o Concílio Vaticano II, que introduziu profundas mudanças na Igreja Católica. Dom José participou ativamente daquele Concílio e era um dos responsáveis pela nova Igreja que então surgia. Em paralelo, instaurava-se no Brasil um regime militar a pretexto de defender a democracia e que se converteu em ditadura, com prisões e torturas de opositores e cerceamento das liberdades. Num primeiro momento, dom José apoiou a chamada revolução de 64, mas em pouco tempo se desiludiu com os rumos tomados e tornou-se uma das mais combativas vozes na contestação aos atos emanados da nova ordem.
Ele encerrou sua missão na Paraíba em 1996, mas sempre fez questão de vir ao Estado em ocasiões marcantes, como recentemente, quando da morte de dom Marcelo Carvalheira, que foi seu bispo-auxiliar e, posteriormente, com sua aposentadoria, tornou-se arcebispo da Arquidiocese. Dom José era um dos poucos bispos negros da Igreja no Brasil e era tratado com “Dom Pelé” e “Dom Zumbi”. Filho de pais pobres, foi arcebispo aos 46 anos de idade e, confrontando com a realidade de pobreza na Paraíba não hesitou em tomar partido em prol dos trabalhadores e de categorias oprimidas. Esteve na linha de frente da denúncia e da resistência a proprietários rurais que espoliavam empregados nas fazendas da Paraíba. Organizou a Arquidiocese com as pastorais totalmente dirigidas para a promoção dos pobres e excluídos. Instituiu o primeiro Centro de Defesa dos Direitos da Pessoa Humana no Brasil, confiado ao advogado Vanderley Caixe, que faleceu em Ribeirão Preto, São Paulo.
Dom José era profundamente identificado com outros expoentes da chamada “linha progressista” do clero, numa época em que a Igreja dividiu-se entre progressistas e conservadores. Firmou uma conexão com dom Hélder Câmara, que ganhou notoriedade como arcebispo de Olinda e Recife, como mentor da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB e era taxado pelos militares de “bispo vermelho”. O professor Sampaio Geraldo Lopes Ribeiro, autor de livros sobre a trajetória de dom José, afirma que logo ao chegar à Paraíba o prelado despojou-se do Palácio, onde sempre moraram os arcebispos e manteve, durante todo o episcopado, um carro simples sem nenhum acessório de luxo a não ser um radio AM para notícias e futebol enquanto viajava. Ele mesmo dirigia o automóvel.
– Em nenhum momento – assevera Sampaio Geraldo Lopes – dom José titubeou (frente às dificuldades e pressões sofridas). Não houve general, exército, telefonemas anônimos, ameaças, perseguições, que o fizessem hesitar um momento sequer. Era, justamente, aquela firmeza, que impedia que os militares fizessem qualquer coisa contra a pessoa do arcebispo da Paraíba ou contra os pobres da região – acrescenta. Agraciado com o título de Cidadão Paraibano pela Assembleia Legislativa, dom José recusou o pedido de deputados da Mesa Diretora para que lhes submetesse previamente o teor do discurso que pronunciaria. Recusou-se a fazê-lo, argumentando que não admitia ser censurado nas suas palavras e pensamentos. A solenidade não houve. Tempos depois, na redemocratização, ele foi novamente assediado para receber o título, com liberdade para se expressar. Agradeceu a deferência mas recusou a cerimônia. “Já sou paraibano, pela vontade do povo”.
Nonato Guedes
Nota da Câmara Municipal de João Pessoa
A Mesa Diretora da Câmara Municipal de João Pessoa vem a público expressar seu profundo pesar pela morte do Arcebispo Emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires, um homem de fé que ensinou sobre o quanto a tolerância religiosa é importante em um mundo tão dividido.
Dom José Maria Pires era o bispo mais antigo do Brasil, e aos 98 anos ainda conservava os ideais pelos quais lutou por toda a vida: aqueles que tornam a humanidade mais justa. Era um verdadeiro homem de Deus.
Defensor incansável da liberdade, deve ser lembrado, também, por sua postura corajosa contra a Ditadura Militar, durante o período em que foi Arcebispo da Paraíba. Dom José Maria Pires era uma das vozes mais importantes na defesa dos direitos humanos e fez da religião um meio para educar com foco no social.
A Casa Napoleão Laureano se solidariza com a família enlutada e toda a Arquidiocese da Paraíba neste momento de dor e consternação, desejando que o exemplo de Dom José Maria Pires e seu legado sirvam de consolo diante de sua partida.
Nota da Assembleia Legislativa
É com consternação que a Assembleia Legislativa da Paraíba vem manifestar o mais profundo pesar pela a morte do arcebispo emérito da Paraíba, dom José Maria Pires, que aconteceu neste domingo (27). Ao mesmo tempo, presta condolências aos familiares e amigos enlutados pela grande e irreparável perda.
Dom José tinha 98 anos de idade e 76 anos de sacerdócio. Dedicou seu trabalho em favor de causas sociais, na defesa dos mais humildes. Atuou como Arcebispo da Paraíba a partir da década de 60, tendo chegado em plena ditadura militar. Tornou-se respeitado pela simplicidade e também pela altivez de posições.
“Perdemos um homem de luz, que lutou pela justiça e igualdade social com bravura e coragem. Seu legado ficará marcado para sempre em nossa memória.”, lamentou o presidente Gervásio Maia.
Nota da Arquidiocese da Paraíba
É com grande pesar que a Arquidiocese da Paraíba comunica que faleceu na noite deste domingo, dia 27 de agosto de 2017, o Arcebispo Emérito da Paraíba, Dom José Maria Pires. Dom José estava internado num hospital em Belo Horizonte, e morreu vítima de complicações de uma pneumonia.
A igreja perde, neste domingo em que comemoramos o Dia do Catequista, um grande pastor. Dom José foi um dos catequistas mais ativos e humildes à frente do seu rebanho, e que soube impor a sua voz, sempre que necessário, em defesa dos menos favorecidos. O Dom Pelé, como ficou carinhosamente conhecido, faz a sua passagem deixando em nós o exemplo de como ser Igreja, de como estar à frente do Povo de Deus. Descanse em paz, Dom José! Temos a certeza de que, crentes na ressurreição, ao lado do Pai, o senhor agora vai abençoar do Céu todos os que fazem a Arquidiocese da Paraíba, fala comovido o Arcebispo Metropolitano da Paraíba, Dom Manoel Delson.
Nota da Prefeitura de João Pessoa
O prefeito de João Pessoa, Luciano Cartaxo, vem a público manifestar seu mais profundo pesar pela morte de Dom José Maria Pires, arcebispo emérito da Paraíba, aos 98 anos de idade, em Minas Gerais. Ao mesmo tempo em que lamenta a morte, o prefeito Luciano Cartaxo registra sua homenagem a Dom José, o arcebispo que fez da Arquidiocese da Paraíba uma Igreja viva não apenas na fé, mas no comprometimento com os mais pobres, no combate às injustiças e na luta pela paz, dimensões expressivas da Teologia da Libertação, movimento marcante e que ajudou a mudar os rumos da história da Igreja Católica da América Latina.
Lembra o prefeito pessoense que impõe-se ressaltar a figura humana, digna, altiva, corajosa e ao mesmo tempo afável e quase angelical de Dom José, que soube elevar a voz em protesto, quando necessário, e moderar conflitos para preservar vidas. O prefeito Luciano Cartaxo se associa, pois, neste momento, aos justos lamentos de toda a comunidade pelo passamento deste religioso que, como verdadeiro profeta, pregou, com vigor, os mais transcendentes ensinamentos do Cristo em solo paraibano, deixando indelével sentimento de saudade.