O ministro Helder Barbalho, da Integração Nacional, revelou que o governo do presidente Michel Temer cogita privatizar o projeto da transposição de águas do Rio São Francisco, cujo custo total estimado gira em torno de R$ 500 milhões. Em depoimento ao site “Poder360”, o ministro ressaltou que caberá ao BNDES conduzir os estudos sobre qual a modelagem a ser adotada nessa situação específica. Os estudos deverão estar concluídos em 2018.
Considerada “a redenção do Nordeste”, a interligação de bacias em diferentes estados do Nordeste ganhou impulso no governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mas também enfrentou problemas que paralisaram o projeto, tais como irregularidades detectadas pelo Tribunal de Contas da União.
A transposição do Rio São Francisco chegou à reta final em março de 2016, com a conclusão de mais de 80% de suas obras. É o maior projeto de infraestrutura de abastecimento hídrico, com projeção de atendimento a 12 milhões de brasileiros, levando água potável para o consumo de agricultores e famílias em 401 municípios dos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e Rio Grande do Norte. Com apenas 3% das águas doces brasileiras, o Nordeste brasileiro tem na seca um problema secular. Com seus 2.800 quilômetros de extensão, o “Velho Chico”, como é denominado o Rio São Francisco, detém 63% dos recursos hídricos da região. O projeto em andamento prevê o uso de apenas 1,4% da vazão das águas por meio de canais, túneis e estações de bombeamento. A assessoria do Ministério da Integração comparou que o percentual representa cerca de duas colheres de sopa para cada litro d’agua despejado no mar.
A obra gerou críticas de ambientalistas e defensores dos direitos das comunidades indígenas, quilombolas e ribeirinhas. No início da execução, o bispo da diocese de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, chegou a fazer duas greves de fome em protesto contra a transposição. Outros ativistas contrários ao empreendimento defendem que o prejuízo em relação às matas ciliares da região e à fauna marinha e, principalmente, o desrespeito aos grupos tradicionais, além da expulsão de proprietários ribeirinhos, com a perda das terras vizinhas aos canais, não compensam os benefícios esperados pelo projeto. A transposição não é exatamente uma ideia nova. Ela foi idealizada e ressuscitada em vários momentos da história do país. Em 1847, a transposição foi apresentada pelo engenheiro cearense Marcos de Macedo ao imperador Dom Pedro II como solução para os problemas da seca que atingia o Nordeste.
A transposição foi avaliada em governos republicanos, inclusive, nas duas gestões de Fernando Henrique Cardoso. Mas o projeto só foi colocado em prática no término do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2006. A rede Globo de televisão, aproveitando a divulgação em torno do assunto, levou ao ar um folhetim intitulado “Velho Chico”, de autoria de Benedito Ruy Barbosa e direção de Luiz Fernando Carvalho, com locações no agreste da Bahia, Alagoas e Rio Grande do Norte. A novela, que reuniu atores e atrizes do Nordeste, especialmente da Paraíba, teve um fim trágico com a morte, por afogamento nas águas do Rio São Francisco, de Domingos Montagner, um dos protagonistas da trama que fez parceria com a atriz Camila Pitanga.
Por Nonato Guedes