Há quem duvide que desta vez seja para valer a candidatura do técnico João Azevedo a um mandato eletivo. Profissional de indiscutível competência na vasta área em que atua no governo do Estado, envolvendo infraestrutura e recursos hídricos, ele tem um tira-teima com as urnas diante do fato de que nunca se submeteu ao crivo delas. Esteve bem próximo, nos ensaios coreográficos para a disputa de 2012 a prefeito de João Pessoa, quando seu nome foi cogitado pelo próprio governador Ricardo Coutinho como reserva de qualidade para gerir o contencioso de uma Capital que cresce a perder de vista e com a qual crescem, em proporção similar, os desafios a serem equacionados pelo poder público.
Em 2012 não deu – Azevedo acabou sendo substituído no páreo pela jornalista Estelizabel Bezerra, que teve boa performance mas não logrou bater na trave, tanto que ficou confinada ao primeiro turno, sem passaporte para a finalíssima, que foi decidida entre figuras carimbadas. Estela era jejuna em incursões políticas tanto quanto Azevedo, mas dispunha de uma desenvoltura maior, tanto assim que foi um quadro que o governador Ricardo Coutinho não perdeu de todo: ela foi eleita deputada estadual em 2014. Em 2016, Coutinho avaliou um leque de alternativas e acabou se fixando na professora universitária Cida Ramos, outra neófita na disputa política-partidária, embora forjada em disputas acadêmicas. O desempenho de Cida foi pífio, de tal sorte que o prefeito Luciano Cartaxo, candidato à reeleição, liquidou a parada no primeiro turno mesmo.
Em 2018, Cida deverá refazer o trajeto de Estelizabel e partir para uma deputação estadual. No que diz respeito a João Azevedo, seu nome voltou à tona, desta feita como alternativa ao governo do Estado. Não há indícios de que ele esteja empolgando os girassóis e uma parcela expressiva do eleitorado paraibano, mas Ricardo persiste na estratégia de tentar massificá-lo, dando-lhe a palavra em cerimônias públicas e até tentando sensibilizar o eleitor com a promessa de ficar no mandato até o último dia para garantir a continuidade do projeto. Antes, como agora – e em escala infinitamente maior – o problema de fundo que Ricardo não deseja reconhecer é a dificuldade de transferência de votos. Ele já provou para si mesmo que é um campeão de votos – e a ópera termina aí. Quando adensa no território do imaginário popular ou do inconsciente coletivo portando o nome de João Azevedo para concorrer ao governo, o cenário embica, somem os vestígios de digitais de Ricardo no processo. E João é trucidado no vis-a-vis com outras cabeças coroadas que procedem de outras jornadas.
Não é que haja rejeição explícita, ostensiva ou acentuada ao candidato João Azevedo, como se ele fosse um político profissional estigmatizado numa conjuntura em que poucos escapam da sanha punitiva ou da caça às bruxas que acomete parcelas da população. Mas se não há rejeição explícita, também não há adesão entusiástica a uma virtual candidatura de Azevedo ao Palácio da Redenção. O problema parece longe do alcance solucionador do governador Ricardo porque envereda por fatores subjetivos, como a ausência de “química” entre o pretenso candidato e o eleitor que pode ser motivado a sufragá-lo nas urnas. Essa química se traduz na empatia pessoal – o elemento subjetivo que João Azevedo não possui e consequentemente não faz chegar ao coração do eleitor. Seu perfil é completamente adaptável aos tempos de hoje, de descrença nos políticos carimbados – mas o eleitor, mesmo repudiando maus políticos, ainda se inclina por políticos tradicionais ou recém-convertidos concretamente ao jogo. É como se Azevedo fosse uma miragem. O eleitor não gosta de apostar em miragens.
É um panorama absolutamente constrangedor e trágico para o esquema do governador Ricardo Coutinho. Pessoalmente, o governador é bem avaliado, esnoba em índices de aprovação ou popularidade porque mantém a aura de homem público ético e, na outra vertente, de “realizador”, ou seja, do político que faz, que investe na coletividade. Mas esse capital não é repassado por osmose para figuras como Azevedo, também respeitado e reconhecido nas suas aptidões técnicas-administrativas, mas ainda reprovado no jogo de cintura político. Ricardo é um excelente quadro político, mas está na hora de reconhecer que não faz milagres ou admitir que é temerário impor supostos alter-egos seus que não são assim identificados pela opinião pública. Se João for até o fim e nada de excepcional ocorrer que possa alavancá-lo, Ricardo terá sido o único responsável direto pelo desfecho. Há opções outras circunavegando a sua órbita de poder. Insistir em tentar viabilizar Azevedo eleitoralmente, num fogo cruzado como o que já está se desenhando, é pagar um alto preço para a própria sobrevivência política. O tempo mostrará com nitidez o erro de cálculo palmar a que o governador se deixa induzir e pelo qual tenta induzir seus correligionários.
Nonato Guedes