O episódio envolvendo o jogador Alex Muralha, do Flamengo, e o jornal Extra, do Rio de Janeiro, mostra mais uma vez a que nível chegou a imprensa brasileira e que continuamos a viver como avestruz: colocando a cabeça no futebol para esquecer dos nossos problemas mais graves e urgentes do dia a dia. Como se sabe, o jornal carioca colocou um editorial na primeira página debochando do atleta flamenguista e dizendo que só voltaria a tratá-lo como Muralha quando ele fizer por merecer.O episódio envolvendo o jogador Alex Muralha, do Flamengo, e o jornal Extra, do Rio de Janeiro, mostra mais uma vez a que nível chegou a imprensa brasileira e que continuamos a viver como avestruz: colocando a cabeça no futebol para esquecer dos nossos problemas mais graves e urgentes do dia a dia. Como se sabe, o jornal carioca colocou um editorial na primeira página debochando do atleta flamenguista e dizendo que só voltaria a tratá-lo como Muralha quando ele fizer por merecer.
Do ponto de vista jornalístico, a brincadeira não tem graça nenhuma. Afinal, o jornal estava falando de um frango levado pelo goleiro reserva de um clube de futebol que estava disputando um torneio sem valor algum com jogadores reservas e até atletas do sub-17. Não estávamos falando de um frango tomado pelo goleiro titular da seleção brasileira em final de Copa do Mundo. A brincadeira foi alvo de severas críticas nas redes sociais e nas páginas de sites que publicaram o fato. Umas poucas pessoas relevaram a atitude do Extra, com o argumento surrado de que era apenas uma brincadeira com o futebol, a alma do povo brasileiro.
Não é o que pensa o professor e pesquisador de Relações Internacionais na Universidade Federal do Rio de Janeiro, que já trabalhou no jornal O Globo, Leonardo Valente. O que a capa do Extra faz hoje com o goleiro do Flamengo tem nome: assédio. Gozação de futebol deve ter limites até em papos de bar. O jornal, o mesmo que decidiu chamar de guerra a violência no Rio, jamais poderia ter adotado uma postura editorial como esta sobre um profissional. É caso de pedido de desculpas, e de processo por danos morais e materiais. É caso exemplar do que virou o jornalismo no Brasil, infelizmente. Não é fenômeno isolado. Este apenas é mais grosseiro e notório, postou em sua rede social.
Sua postagem recebeu diversos comentários, a maioria favorável ao seu posicionamento e atacando a postura do jornal. Desnecessário. Agressivo. Zoação no futebol tem limite. As pessoas perderam o senso de limite de modo geral. Tá puxado, comentou Letícia Matheus. Rogério Rangel continuou: Desjornalismo, de novo. Do mesmo jornal que faz um caderno “Guerra”. Do mesmo grupo golpista, etc, etc… Mariano Morgado de Queiroz completou: Mandaram bem mal! Sou Flamenguista e acho o goleiro fraco, mas é inacreditável fazer isso com uma pessoa. O próprio Leonardo Valente arrematou: Texto jornalístico não é só informação. É forma, tamanho e espaço. Tudo isso comunica. Ao cravar uma sentença em primeira página, pois o que fez foi uma punição por performance, ele assedia. O formato, mesmo tratamento dado a bandidos, mesmo uso da foto, só piora a situação. Acho muito ruim a defesa deste tipo de postura. Mostra que nossa sociedade está muito mais interessada no escracho do que nas pessoas. Lamentável..
O editorial do Extra gerou protestos da diretoria do Flamengo, através do presidente Eduardo Bandeira de Melo. Alex Muralha, principal atingido, emitiu nota e disse que tal postura do jornal só incita a violência contra o jogador de futebol. Jogadores do Flamengo assinaram manifestos de apoio ao goleiro.
Eis o editorial do Extra: “Em nome da precisão jornalística, o leitor do EXTRA não encontrará, a partir de hoje, a palavra Muralha relacionada ao senhor Alex Roberto Santana Rafael. Provável titular do Flamengo na final da Copa do Brasil, Alex Roberto, o ex-Muralha, mais uma vez desmoralizou o vulgo, levando um frango no jogo contra o Paraná pela Primeira Liga. Além de ter errado 100% dos lados nas cobranças de pênalti, completando 545 dias sem defender uma penalidade. Também em nome da precisão jornalística, o EXTRA se compromete a rever a sua decisão caso Alex Roberto, o ex-Muralha, volte a fazer por merecer.”
Linaldo Guedes