O Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, que deixa o cargo no próximo dia 17, deflagrou, ontem, o oferecimento de denúncias contra políticos investigados, entre os quais os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, acusados de participar de uma organização criminosa para desviar dinheiro da Petrobras. Também foram denunciados os ex-ministros da Fazenda Antonio Palocci e Guido Mantega, a presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann e seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, os ex-tesoureiros do partido João Vaccari e Edinho Silva, atual prefeito de Araraquara, São Paulo.
Informalmente, o inquérito é denominado de “quadrilhão do PT”, por apurar se pessoas vinculadas ao partido fizeram parte do chamado “quadrilhão”. Rodrigo Janot escreveu que pelo menos desde meados de 2002 até 12 de maio de 2016, os denunciados integraram e estruturaram uma organização criminosa com atuação durante o período em que Lula e Dilma, sucessivamente, titularizaram a presidência da República para cometimento de uma miríade de delitos, em especial contra a administração pública em geral”. As reações começaram, ontem mesmo, à denúncia de Janot. O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou estar sendo vítima de perseguição e acrescentou que o seu envolvimento foi uma manobra para tentar ofuscar a “caravana” que ele acaba de concluir pelo Nordeste.
Janot não se limitou a acusar petistas. Enunciou que além do PT o núcleo político da referida organização era composto, também, por integrantes do PMDB e do PP, “agentes públicos cujas condutas são objeto de outros inquéritos”. Na sexta-feira, Rodrigo Janot havia denunciado políticos do PP |(Partido Progressista) mas o documento permanece em sigilo. O PMDB, por sua vez, é objeto de dois inquéritos – um que apura a participação de deputados e outro de senadores no suposto esquema da Petrobras. Ambas as investigações estão na fase final e Janot pretende oferecer denúncia nos próximos dias. Janot já causara controvérsia anteontem ao revelar a descoberta de áudio-bomba de Joesley Batista, executivo da JBS, incriminando novamente o presidente Michel Temer (PMDB) e, agora, integrantes do Judiciário, especialmente do Supremo Tribunal Federal. Janot deixou claro que a descoberta do áudio não invalida as provas da denúncia contra Temer, que, no entanto, confessou a interlocutores estar tranquilo e não recear nenhum fato comprometedor.
Em nota divulgada ontem, Joesley Batista e Ricardo Saud, executivos e delatores da JBF, pediram desculpas pelo conteúdo dos áudios gravados e entregues à PGR. “O que nós falamos não é verdade; pedimos as mais sinceras desculpas por este ato desrespeitoso e vergonhoso e reiteramos o nosso mais profundo respeito aos ministros e ministras do Supremo Tribunal Federal, ao Procurador Geral da República e a todos os membros do Ministério Público”, assinala o texto. Nesses arquivos, ambos discutem uma estratégia para “moer” o Judiciário, partindo do pressuposto de que a Odebrecht já havia moído o Poder Legislativo.
Nonato Guedes, com Folhapress