O procurador-geral da República Rodrigo Janot esforçou-se o quanto pôde para sair do cargo como um “justiceiro” ou um “herói” em meio a tantas falcatruas envolvendo figurões da República, inclusive, presidentes da República. Mas não teve competência para tanto e muito menos cacife ou habilidade. Em editorial que assina na revista ISTOÉ, o diretor de redação Carlos José Marques é enfático: “No bambuzal de Janot sobrou flecha para todo lado, inclusive na direção dele. A última, desferida pelo próprio, pareceu cena de suicídio. Levou ao sepultamento profissional, político, de imagem e reputação do referido arqueiro. Janot foi foi o algoz de Janot. Ninguém mais. Traçou um destino vexatório desde os primeiros movimentos. Açodado, meteu os pés pelas mãos”.
Rodrigo Janot avocou para si um papel heroico – pelo menos nas aparências – desde que foi preterido no seu desejo de recondução à Procuradoria-Geral pelo presidente Michel Temer, que preferiu confiar na doutora Raquel Dodge, que vai se investir na função a partir do dia 19. Uma vez preterido, Janot passou a operar como “o senhor das flechas”, disparando-as a esmo no imenso bambuzal que logrou edificar. Indaga Carlos José Marques: “Como pode um procurador disparar, por exemplo, uma operação controlada, de grampo presidencial, sem consentimento ou autorização da Corte Suprema? A PGR, sabe-se agora, esteve metida até a última haste da flecha endereçada a Temer, naquela que foi a mais rocambolesca e ruidosa gravação de diálogos de um mandatário do País”. A conduta foi anormal, revestida de traços de ilegalidade. E pode resultar na anulação de acordos que já estavam bem adiantados.
No dizer do editorialista da ISTOÉ, Janot enroscou-se na ideia fixa de entrar para a história mirando alvos da República com munição de origem duvidosa. Em busca de troféus e de uma aposentadoria gloriosa, não mediu ambições. Engendrou acordos espúrios com ladravazes da praça. Deu-lhes guarida e imunidade, na forma de benefícios extraordinários – imorais mesmo! Ignorou a fragilidade das provas e da armação que se erguia ao seu redor. Tombou atingido pelas suspeitas de colaboração do subordinado próximo. Só podia dar no que deu. O ministro Gilmar Mendes classificou Janot como a maior tragédia da história da Procuradoria. Criticou o que chamou de arranjos e mutretas do seu opositor. Mas era mais ou menos conhecida a saga dos equívocos e derrapagens do Procurador desde que ele alinhou-se à trupe do governo petista. De lá para cá, Janot errou em tudo”.
Nesta fase aguda da Lava-Jato, em que as evidências vão se tornando mais nítidas, mais solares, há os que estão sendo punidos porque se julgaram espertos demais e ignoraram a lição elementar de antigos políticos mineiros, segundo a qual, esperteza, quando é muita, come o dono. Temos o Janot, irremediavelmente flechado na sua imagem. Há o presidente Michel Temer, cada vez mais comprometido e atolado em denúncias de esquemas ilícitos que podem ser embrião, até mesmo, de um novo processo de impeachment. Há o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o “santinho de pau ôco”, que tem encontro marcado nesta quarta-feira, 13, com o juiz Sérgio Moro. Lula teve a situação complicada por artes de um antigo aliado – o ex-ministro Antonio Palocci, o “italianinho” de certas gravações que, afinal, deu as caras. E contou parte do que sabe. Enfim, há o chamado açougueiro de reputações Joesley Batista, que falou em dissolver o Congresso e em “pegar” o Executivo enquanto tripudiava das chances de ser preso.
O país está sendo apresentado ao submundo da política, onde ocorrem as transações e traficâncias inimagináveis e que não poupam siglas partidárias nem simbolismo de mandatos ou cargos exercidos. Esta República está inexoravelmente pôdre. Precisamos de uma novíssima. Sem vícios, espertezas ou maracutaias!
Por Nonato Guedes