Na quarta-feira, 13, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai prestar seu segundo depoimento ao juiz Sergio Moro, titular da Décima Terceira Vara Federal em Curitiba e um dos executores da Operação Lava Jato, que tem desbaratado um dos maiores esquemas de corrupção da história do Brasil. As possibilidades de que venha a ser decretada prisão preventiva de Lula são consideradas remotas por juristas, mesmo com as revelações devastadoras do ex-ministro Antonio Palocci incriminando o ex-presidente e apontando-o como beneficiário de propinas bancadas pela construtora Odebrecht.
O ex-presidente vai ter o direito de ficar em silêncio, de nada comentar em caso de indagações sobre vínculos com a Odebrecht e, mesmo assim, ser preservado na sua liberdade individual, de acordo com os juristas. Em Brasília, porém, circulam avaliações quanto a um iminente cerco que estaria se fechando não somente em torno do ex-presidente Lula, mas de outros protagonistas de episódios apurados pela Lava Jato. A última semana foi particularmente pródiga em fatos de impacto, a exemplo da decretação da prisão do ex-ministro Geddel Vieira Lima em meio à descoberta de um “bunker” onde estavam R$ 51 milhões arrecadados por eele em negociatas. No domingo, fechando “o firo”, houve a apresentação do delator Joesley Batista à Polícia Federal em São Paulo. Ele será recambiado para Brasília hoje, a fim de repassar informações sobre ocorrências comprometedoras, juntamente com comparsas.
Em paralelo, o Procurador Geral da República Rodrigo Janot prepara-se para detonar os últimos cartuchos à frente da PGR, na qual será substituído, no dia 19, pela procuradora Raquel Dodge, tendo como vice-procurador-geral o jurista paraibano Luciano Mariz Maia. A revista VEJA, em matéria especial na sua última edição, revela os principais trechos da delação do doleiro do PMDB Lúcio Bolonha Funaro, acusando o presidente Michel Temer de ter tido participação no esquema de arrecadações. Durante mais de uma década, Lúcio Funaro atuou como consultor financeiro e banqueiro informal do PMDB. Seu trabalho era o de prospectar bons negócios e fazer com que os rendimentos oriundos desses negócios fossem distribuídos entre seus clientes preferenciais. Preso há 434 dias, ele teve, afinal, homologado pelo Supremo Tribunal Federal o acordo de delação.
O roteiro é bombástico. No roteiro com os detalhes sobre o que ele se comprometeu a contar às autoridades, figuram subornos a parlamentares, venda de legislação e grandes esquemas de corrupção. Nos relatos envolvendo o presidente Michel Temer, o peemedebista aparece fazendo lobby para políticos, cobrando repasses de caixa dois e, também, como destinatário de propina. O doleiro diz que nunca conversou sobre dinheiro diretamente com Temer, “pois essa interface era feita por Eduardo Cunha”, mas declara que era informado por Cunha sobre as divisões da propina. Garante que Temer sempre soube de todos os esquemas tocados pelo ex-deputado. “Temer participava do esquema de arrecadações de valores ilícitos dentro do PMDB. Cunha narrava as tratativas e as divisões de propina com Temer”, acusou. A semana promete – e de antemão se sabe que é alto o teor de nitroglicerina pura das revelações que estão sendo condensadas.
Nonato Guedes, com UOL