A revista CartaCapital, confessadamente alinhada com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a ex-presidente Dilma Rousseff, garante que o interrogatório de Lula amanhã perante o juiz Sergio Moro é um jogo de cartas marcadas, no qual o líder petista estaria fora das eleições de 2018. A matéria ressalta que pela segunda vez Moro negou pedido de defesa de Lula para suspender os interrogatórios no segundo processo em que ele é réu na Justiça Federal no Paraná, relacionados a oito contratos firmados entre a Odebrecht e a Petrobras. Conforme a peça acusatória, parte dos 75 milhões de reais desviados foi destinada à aquisição de um terreno que abrigaria a sede do Instituto Lula e à compra de um apartamento vizinho à cobertura onde mora o ex-presidente, em São Bernardo do Campo, no ABC paulista, ainda que os imóveis não estejam registrados em nome de Lula.
O defensor do ex-presidente, Cristiano Martins Zanin, solicitou acesso ao acordo de leniência firmado pelo Grupo Odebrecht com o Ministério Público Federal e mais uma vez teve o pleito negado. “O juízo de Curitiba afrontou o direito de defesa de Lula ao manter a realização de um depoimento sem dar aos advogados o acesso aos mesmos documentos que estão na posse da acusação”, denunciou Zanin. CartaCapital, editada pelo jornalista Mino Carta, o primeiro editor da Veja, insiste na tecla de que Lula é líder inconteste nas sondagens eleitorais no primeiro turno de 2018 mas habituou-se a ver seus processos tramitarem com inédita celeridade, o que apenas reforçaria as suspeitas de que o ex-presidente tem o destino selado, “num script que não admite a possibilidade de ele voltar a disputar a presidência da República”, segundo o texto de Rodrigo Martins.
A revista menciona o processo que condenou Lula a nove anos e meio de prisão no caso do triplex do Guarujá, que teria chegado em tempo recorde ao Tribunal Regional Federal da Quarta Região em Porto Alegre. Foram 42 dias, o trâmite mais rápido de todas as apelações da Lava Jato com origem em Curitiba, relata “CartaCapital”, sem informar que apesar de ter sido decretada a pena de prisão por Sérgio Moro o ex-presidente não a cumpriu e ficou inteiramente livre para organizar uma “Caravana pelo Nordeste”, que teve cobertura de órgãos de imprensa interessados na estratégia lulista de se manter em evidência e em desgastar, por tabela, o governo do presidente Michel Temer, investido com o impeachment de Dilma Rousseff. Matérias como a da CartaCapital servem para mostrar o maniqueísmo que cerca o destino do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Uma ala da imprensa considera que a ascensão de Temer foi um golpe e que Lula é vítima de perseguição injusta, enquanto outros órgãos de informação que dispõem de documentos e provas concretas sustentam que Dilma era indefensável e que Lula tenta burlar a Lei e dispor de privilégios, com a insistência em ser candidato a presidente da República, mesmo sabendo que há uma pletora de processos esperando por ele, o que o cataloga no rol dos políticos “ficha-suja”.
A troca de acusações entre partidários e adversários do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva funciona como uma prévia da atmosfera que vai predominar amanhã em Curitiba, para onde está marcado o segundo interrogatório do ex-presidente por parte do juiz Sergio Moro. A CartaCapital admite que na avaliação de diversos advogados consultados pela sua reportagem, as chances de Lula obter uma absolvição na Oitava Turma do TRF4 são remotas, praticamente nulas. “Isso se deve fundamentalmente ao perfil dos seus julgadores, ora apresentados como ideologicamente conservadoras, ora como salvacionistas, magistrados convencidos de que para livrar o Brasil da corrupção é preciso adaptar as regras processuais e fechar os olhos para eventuais excessos da República de Curitiba”, ironiza a reportagem da revista “CartaCapital”.
Abstraindo paixões jornalísticas ou de militantes políticos, a favor e contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o fato concreto é que não pode ser mais adiado o julgamento definitivo do fundador do PT num rosário de acusações desfiadas contra ele desde os tempos do mensalão e passando ultimamente pelo petrolão, este um escândalo muito mais devastador porque atingiu colateralmente expoentes de outros partidos políticos, inclusive da base do presidente Michel Temer, e empresários como Marcelo Odebrecht e Joesley Batista. As atenções gerais se voltam para Curitiba. Mas não é verdade que Lula esteja desprotegido, como insinua a revista “CartaCapital”. Ele atrai holofotes e usa esses holofotes para se pôr no papel de vítima. Seria mais conveniente que apresentasse provas inequívocas de sua inocência. Isto é o que a maioria esmagadora da sociedade está aguardando para hoje, independente de vaticínios sobre suposto jogo de cartas marcadas. Ultimamente, só para lembrar, quem agravou a situação de Lula não foi nenhum adversário político. Foi o ex-companheiro Antonio Palocci, que finalmente resolveu contar o que sabe sobre segredos que vinham sendo mantidos fechados religiosamente. Palocci foi ministro de Lula, para quem não recorda.
Por Nonato Guedes