Em pouco menos de duas horas de depoimento ao juiz Sergio Moro, ontem, em Curitiba, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou o ex-ministro Antonio Palocci de “calculista, frio e simulador” e negou que tenha feito qualquer acerto ilícito com a empreiteira Odebrecht. O depoimento foi à tarde. À noite, em comício, Lula dramatizou perante a plateia: “Prefiro a morte a passar à História como mentiroso”. A Polícia Militar estimou em dois mil o número de participantes da manifestação na capital paranaense, enquanto a organização do evento estimou em sete mil os presentes.
Lula salientou que não se considera uma pessoa acima da Lei e frisou que está disposto a responder acusações que lhe são formuladas, mas exigiu que fossem apresentadas provas concretas para incriminá-lo. Ele confirmou ter mantido encontro com Emílio Odebrecht, em 2010, juntamente com a ex-ministra Dilma Rousseff mas assegurou que a audiência não foi para tratar de qualquer acerto ilícito relacionado a apoio financeiro para a campanha de Dilma à presidência da República. De acordo com a sua versão, Emílio teria ido lhe comunicar a transição de comando na empresa, com a transferência de responsabilidades maiores para Marcelo Odebrecht, que atualmente está preso.
O segundo depoimento prestado por Lula a Moro ocorreu uma semana depois que o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci afirmar que o petista avalizou um “pacto de sangue” com a Odebrecht, com o pagamento de R$ 300 milhões em vantagens indevidas em troca de manter o protagonismo da empreiteira no governo. Nessa ação, o ex-mandatário é acusado de se beneficiar de vantagens indevidas pagas pela empreiteira Odebrecht, incluindo a compra de um terreno que seria destinado ao Instituto Lula, sediado em São Paulo, e cuja negociação teria sido intermediada por Palocci.
O ex-presidente relatou que Palocci nem sequer era responsável por assuntos do Instituto Lula, o que caberia ao seu presidente Paulo Okamotto e afirmou que só se encontrava com o ex-ministro, depois de sua saída do governo, “de oito em oito meses”. Na audiência, o Ministério Público Federal ainda apresentou uma pauta de reunião de Emilio Odebrecht, patriarca da empreiteira, com Lula, que foi entregue à investigação. Lula assegurou que o documento é falso e uma mentira e ainda fez críticas ao Ministério Público Federal, dizendo encarar com desconfiança algumas das operações patrocinadas pelo MPF. O advogado de Palocci, Adriano Bretas, reagiu em nota afirmando que dissimulado “é ele (o ex-presidente Lula, que nega tudo o que lhe contraria e teve a pachorra de dizer que raramente se encontrava com Palocci). Moro também ouviu o ex-assessor de Palocci, Branislav Kontic, na audiência de ontem. Adriano Bretas foi enfático: “Enquanto Palocci mantinha o silêncio, era tratado como inteligente e virtuoso; depois que resolveu falar a verdade, passou a ser tido como calculista e dissimulado”.
Nonato Guedes, com agências