Todas as religiões, com raríssimas exceções, costumam ter alguns preceitos em comum, a exemplo de compaixão, amor, fé pelo seu Deus e respeito às diferenças. Mas nem todos que se dizem pertencer a alguma religião praticam tais preceitos. Pelo contrário, até. Abusam da intolerância, rejeitando e agredindo outras religiões que não a sua. Esta semana, tivemos mais casos envolvendo intolerância religiosa contra candomblé e contra a Igreja Católica.
Na segunda-feira, dia 11, o colunista do UOL, Ricardo Feltrin, noticiou que o pastor Agenor Duque, da Igreja Plenitude do Trono de Deus, se meteu numa grande polêmica ao comparar Nossa Senhora a uma garrafa de coca-cola, revoltando os católicos. Um vídeo com uma pregação que ele fez na sede da igreja, na av. Celso Garcia, em São Paulo, viralizou na internet. No vídeo, Duque usa uma garrafa de Coca-Cola para zombar da devoção à imagem de Nossa Senhora. Segundo Feltrin, sem citar o nome de Nossa Senhora, o pastor afirma no vídeo: É escura como essa garrafa, o manto dela se parece com um rótulo, compara. A boca dela não fala. O ouvido dela não ouve. Você que está com câncer, tire ela do pedestal. Talvez tenha um altar aí, afirma o líder da Plenitude.
Dois dias depois, criminosos obrigaram uma mãe de santo a destruir seu próprio terreiro em Nova Iguaçu, Rio de Janeiro. Testemunhas disseram à Rádio CBN que os traficantes chegaram a urinar nas imagens sacras. Toda a ação foi gravada e divulgada nas redes sociais. A Comissão de Combate à Intolerância Religiosa apura um outro vídeo nas mesmas circunstâncias, onde o caso também teria ocorrido na Baixada Fluminense.
A CBN carioca, aliás, fez uma excelente cobertura do ocorrido, ouvindo várias partes envolvidas. O babalaô e presidente da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa disse que as autoridades públicas têm sido procuradas há quase dez anos por casos de intolerância religiosa, mas são omissas. A socióloga, professora da Uff e autora do livro Oração de Traficante, Cristina Vital da Cunha, fez uma denúncia gravíssima. Ela afirmou que a relação entre criminosos e lideranças evangélicas prevê benefícios mútuos. Em troca de proteção para o tráfico, criminosos têm que combater frontalmente outras religiões, principalmente de matriz africana, declarou. Já o diretor-geral de Polícia Civil da Baixada Fluminense, Sérgio Caldas, explicou que há uma dificuldade no combate a crimes de intolerância religiosa por causa da ausência desse crime no Código Penal. O texto traz apenas injúria qualificada por religião e escarnecer culto religioso.
Tanta intolerância repercutiu de forma negativa nas redes sociais e em sites e blogues de credibilidade. Matê da Luz fez uma análise interessante do tema, na qual reproduzimos alguns trechos: Informação preciosa: o candomblé não trabalha com o diabo, demônio ou seja lá o nome que tenha. No candomblé, evocamos as forças da natureza que, isso sim, têm manifestações positivas e negativas, mas que passam longe do bizarro comportamento humano de destruir e depredar. Este diabo que tantos comentam existem nas visões bilaterais apresentadas na religião e, aos meus olhos, cada vez mais serve como desculpa para os erros humanos. Santo nenhum ou Deus algum, pelo que eu entenda, deseja instigar o erro, o equívoco. O que existe e que pode ser comparado ao mal, veja bem, nem existe de fato para o candomblé, mas sim para a Umbanda e para o espiritismo – é a chamada baixa frequência, onde estão os espíritos menos evoluídos e que, por estarem em processo de aprendizado, podem acabar influenciando ações negativas aqui na terra. Quer dizer, estão destruindo lugares por puro ódio. Por uma intolerância que, sob todos os prismas, não carrega informação ou fundamento algum – entendo que algum tipo de violência pode ser justificada em contra-ataque, proteção vital ou casos extremos, mas não sem a parceria da inteligência, filtro que determina intensidade e direção de movimentos. O que está acontecendo no Rio de Janeiro, o que vem acontecendo com as religiões de raiz negra neste país só tem um nome: preconceito.
O texto completo de Matê da Luz pode ser acessado aqui: http://jornalggn.com.br/blog/mate-da-luz/os-limites-da-intolerancia-religiosa-no-rio-de-janeiro-por-mate-da-luz
Linaldo Guedes