O presidente Michel Temer qualificou, ontem, de “realismo fantástico em estado puro” o teor da segunda denúncia formulada contra ele pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. De acordo com Janot, Michel Temer teria atuado para comprar o silêncio do doleiro Lúcio Funaro, um dos delatores sobre suposto esquema de corrupção envolvendo integrantes do PMDB com o objetivo de obter vantagens indevidas em órgãos públicos. A suposta interferência teria ocorrido por intermédio dos empresários da JBS Joesley Batista e Ricardo Saud, que tiveram o acordo de delação recindido pela PGR.
Na nota divulgada pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República consta que Rodrigo Janot ignorou deliberadamente as graves suspeitas que fragilizam as delações sobre as quais se baseou para formular a segunda denúncia. E adiantou: “O Procurador-Geral da República continua sua marcha irresponsável para encobrir suas próprias falhas. Finge não ver os problemas de falta de credibilidade de testemunhas, a ausência de nexo entre as narrativas e as incoerências produzidas pela própria investigação apressada e açodada”. O peemedebista afirma que Janot tenta criar fatos para encobrir a necessidade urgente de investigação sobre pessoas que integraram sua equipe em relação às quais há indícios consistentes de terem direcionado delações e, portanto, as investigações. “Fala de pagamentos em contas no exterior ao presidente sem demonstrar a existência de conta do presidente em outro país. Transforma contribuição lícita de campanha em ilícita e confunde para tentar ganhar ares de verdade”.
O ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha, disse acreditar que a denúncia não será acatada pelo Ministério Público. Por sua vez o ministro Moreira Franco, também em nota, criticou o embasamento da denúncia e assegurou que não cometeu irregularidades. O ex-deputado Eduardo Cunha, que está preso em Curitiba, acusou, por meio da sua defesa, os delatores de falarem tudo o que o Ministério Público quer ouvir. A defesa de Geddel Vieira Lima informou em nota que rechaça categoricamente as imputações veiculadas na denúncia oferecida, “de inegável fragilidade narrativa e probatória, reservando-se a rebatê-las em juízo, quando oportunizado o contraditório”.
Em meio às cobranças dos governistas por revisão das atribuições da PGR, o deputado Darcísio Perondi, fiel escudeiro do governo Temer no Congresso e integrante da bancada do PMDB do Rio Grande do Sul, classificou a denúncia de Janot como vazia e requentada, “uma ação política tresloucada e corporativista” e disse que ele (Janot) usa coisas que pretensamente foram feitas antes de Michel Temer ser presidente. Perondi apontou, também, que o enfraquecimento de Rodrigo Janot, “a partir do seu choro ingênuo e puro na segunda-feira retrasada explodiu com a imagem já comprometida da PGR dentro da Casa”. O deputado Beto Mansur, do PRB-SP, sugeriu que seria de bom tom que a futura Procuradora Geral da República, Raquel Dodge, solicite a revisão da denúncia feita por Janot. E o líder do PSDB, senador Paulo Bauer, foi na mesma linha de ataque a Janot, afirmando que ele deveria ter deixado a denúncia a cargo de Dodge. Sobre a autorização da Câmara para que a denúncia tenha prosseguimento, acredita que a nova acusação será barrada com mais facilidade.
Nonato Guedes, com Folhapress