Ontem foi o aniversário do Procurador Geral da República, Rodrigo Janot, que completou 61 anos de idade e também foi seu último dia útil de trabalho no comando do Ministério Público Federal. Janot reuniu a equipe para apresentar o balanço de sua gestão e disse que a esperança triunfa no Ministério Público. “Juntos vivemos e escrevemos um capítulo muito especial na história do país e do Ministério Público. Valeu a pena para mim cada minuto de labuta e até de sofrimento”, discursou Janot, que ganhou um arco e flecha da tribo Xokó, de Sergipe, numa referência à frase “Enquanto houver bambu, lá vai flecha”, dita por ele em uma palestra em São Paulo. A declaração foi criticada pela defesa do presidente Michel Temer, alvo de uma segunda denúncia de Janot ao STF na quinta-feira, sob acusação de chefiar organização criminosa e obstruir a Justiça.
Enquanto isso, a substituta de Janot na PGR, Raquel Dodge, passou a se envolver nos preparativos para sua posse que ocorrerá às 8h de segunda-feira em Brasília. Da equipe anunciada por Raquel faz parte o jurista paraibano Luciano Mariz Maia, convidado para ocupar a vice-procuradoria geral da República. O evento de despedida de Janot foi fechado para a imprensa – ele recebeu homenagens das unidades do MPF nos Estados. Um dos discursos tidos como mais emocionantes foi o do procurador Vladimir Aras, secretário de Cooperação Jurídica Internacional de Janot, que classificou a gestão como “uma história de fé na Justiça e amor pelo Brasil”.
O presidente Michel Temer vai presidir a cerimônia de posse de Raquel Dodge na PGR e em seguida embarca para os Estados Unidos a fim de cumprir compromissos oficiais. Acertar a data da posse dela foi a razão do encontro entre Raquel e Temer no começo de agosto, no Palácio do Jaburu, por volta das 22h de uma terça-feira. Na época, o Planalto afirmou que o encontro ocorreu fora da agenda porque ambos combinaram a reunião em cima da hora. Raquel foi indicada por Temer para assumir o cargo de procuradora-geral da República e teve seu nome aprovado pelo Senado. Ela foi a segunda colocada na lista tríplice durante eleição supervisionada pela Associação Nacional dos Procuradores da República. Uma das suas missões é a d dar continuidade aos trabalhos da PGR envolvendo a Operação Lava-Jato, que tem pilhado políticos de diferentes partidos, inclusive do PMDB, a que é filiado o presidente Temer. Os últimos dias de Janot foram marcados por críticas sobre prováveis excessos cometidos à frente da Procuradoria, a exemplo da formulação da segunda denúncia contra Temer, que foi encarada como ato de revanchismo de Janot por não ter sido reconduzido pelo Planalto.
A maior controvérsia se deu quando Janot comunicou em entrevista coletiva que as delações de Joesley Batista e de outros diretores da JBS, que paralisaram o País e serviram de base para sua denúncia contra o presidente Temer, seriam anuladas por terem sido resultado de uma armação entre delatores e membros do seu próprio gabinete. Na interpretação da revista ISTOÉ, “o procurador que esperava encerrar sua gestão como espécie de salvador da pátria, implacável guerreiro no combate contra a corrupção e responsável por denunciar mais de uma vez um presidente da República no exercício do mandato, encerra seu ciclo à frente do Ministério Público de forma melancólica e vexatória”.
Nonato Guedes, com agências