Eventos na cidade de Sousa, no Sertão paraibano, assinalam o transcurso, hoje, dos 22 anos da morte do ex-governador e ex-senador Antônio Mariz, considerado um dos mais brilhantes homens públicos da Paraíba e do País. Mariz faleceu na Granja Santana, residência oficial do governador do Estado, vítima de complicações decorrentes de câncer e que o levaram a sucessivas internações em São Paulo. Em 1994, ele foi vitorioso na eleição ao governo do Estado, derrotando a ex-deputada Lúcia Braga. Foi a terceira tentativa de Mariz em chegar ao Palácio da Redenção – em 78, ele concorreu por via indireta na convenção da Arena e perdeu para Tarcísio Burity; em 82, já pelo PMDB, disputou a céu aberto o Executivo estadual, mas foi batido por Wilson Braga por uma diferença de 151 mil votos de maioria.
Ex-prefeito de Sousa, onde realizou administração inovadora que contrariou interesses e levou à sua deposição, Mariz projetou-se nacionalmente como deputado federal, integrando o grupo renovador da Arena que contestava decisões do regime militar. Em 88, foi considerado Constituinte Nota Dez, pela sua atuação marcante na Assembleia Nacional Constituinte em defesa dos direitos dos trabalhadores e em prol de causas como a liberdade de expressão e de organização política-partidária, segundo avaliação do Diap, o Departamento Intersindical de Assessoramento Parlamentar. Em 92, já como senador, foi o relator do processo de impeachment do então presidente da República, Fernando Collor de Melo. Em seu parecer fundamentado, Mariz explicou que se tivesse convicção da inocência de Collor em atos delituosos que lhe eram atribuídos não hesitaria em pedir a sua absolvição. Mas ponderou que a sua apreciação era outra, e apontava na direção da culpa com envolvimento do ex-presidente em transações operadas por PC Farias, que havia sido tesoureiro de campanha de Fernando Collor de Melo.
Os problemas de saúde que se agravaram nos últimos anos impediram Mariz de colocar em prática o programa de governo que havia defendido na praça pública, prevendo geração de emprego e renda, redução das desigualdades regionais e investimentos em outros setores, como o da Cultura. Com a sua morte, ascendeu ao governo o então vice José Targino Maranhão, que havia sido escolhido diretamente por Mariz por se tratar de pessoa de sua confiança, afinada com os princípios que nortearam o “Governo da Solidariedade” empalmado por Mariz durante o pouco tempo à frente do Palácio da Redenção. Num depoimento que deu ao ex-governador Ronaldo Cunha Lima, no Incor, em São Paulo, Mariz afirmou: “Quando eu tinha saúde, perdi o governo do Estado; quando ganhei o governo, perdi a saúde”. Queria, com isto, simbolizar as peças que o destino prega nas pessoas.
O ex-deputado Inaldo Leitão, em depoimento para um livro sobre Mariz editado pelo Senado, qualificou o ex-governador como um político singular. E acrescentou: “Foi assim que sempre vi Antonio Mariz. Ele venceu verdadeiras guerras políticas e inúmeras batalhas eleitorais. Ainda quando perdia algumas, saía vitorioso porque sabia crescer nas poucas derrotas que sofreu”. Inaldo disse que Mariz era um homem de ideais e princípios e conservou-os ferrenhamente em vida. “No campo ético, era um fiscal de si mesmo. Os cargos que exerceu jamais lhe tiraram a simplicidade ou lhe fizeram distante dos velhos amigos, dos graduados aos mais humildes. Mariz era tão tolerante com as pessoas simples quanto intolerante com a arrogância dos que se supunham poderosos. Não bajulava e tampouco gostava de bajuladores. Não praticava bravatas e detestava o exibicionismo. A coragem era uma de suas marcas. Coragem serena, sem arroubos, diga-se”, acrescentou Inaldo Leitão.
Nonato Guedes