No transcurso dos 22 anos da morte do ex-governador e ex-senador Antônio Mariz, ontem, discutia-se nos meios políticos locais uma peculiaridade – a de que o brilhante político paraibano não deixou herdeiros mas uma legião de discípulos fiéis, que ainda hoje propagandeiam os valores éticos e morais defendidos por ele e os compromissos com a seriedade na coisa pública. Num primeiro momento, em meio ao calor da repercussão da morte de Mariz, cogitou-se o nome da viúva, Mabel Dantas Mariz, como sucessora política. Dona de personalidade admirável e marcante e leal companheira de Mariz nas jornadas difíceis que ele enfrentou, Mabel deixou claro que não tinha veleidade de empunhar o símbolo do marizismo nas disputas políticas, preferindo apregoar os ideais do marido através de divulgação de pronunciamentos com que ele pontuou sua trajetória de deputado federal, prefeito de Sousa, senador, candidato a governador por três vezes e, finalmente, governador.
Mabel ainda sofreu pressão de órfãos do marizismo em Sousa, reduto principal de sua atuação, para que mantivesse a liderança do grupo. Chegou a ser incluída numa chapa nas eleições municipais em Sousa, como vice de Lúcio Matos, que acabou sendo derrotado em meio à pulverização de postulantes. As duas filhas de Mariz, radicadas em Brasília, também não demonstraram interesse edm seguir carreira política. O discípulo mais próximo, o ex-deputado federal Inaldo Rocha Leitão, congregou marizistas em torno de candidaturas que registrou após a morte do grande líder, mas nunca se portou na condição de comandante da facção. Mabel Mariz, em entrevista a um órgão da imprensa escrita da Paraíba, chegou a ser enfática ao declarar que Mariz não tinha herdeiros. Em João Pessoa, o seu sobrinho José Mariz Filho, advogado, tentou enveredar pela política-partidária, candidatando-se duas vezes a uma vaga como vereador na Câmara Municipal mas não logrou êxito.
Entre as análises a respeito da ausência de herdeiros do marizismo, constou uma do historiador José Octávio de Arruda Melo avaliando que apesar de constituir força política emergente e impetuosa no cenário político paraibano, sacudindo estruturas oligárquicas, o marizismo não teve a preocupação de se consolidar como “seita” política. O próprio líder maior jamais estimulou o culto à personalidade que alguns discípulos mais afoitos tentaram instituir em torno do seu nome e da sua liderança. Mariz tomou decisões corajosas, solitárias, quando entendia que o desafio estava nas suas mãos. Mas, em regra, buscou atuar de forma conjunta, articulado com lideranças políticas com quem tinha afinidades. Foi assim que ele ganhou lastro para romper com o sistema e lançar-se candidato de protesto ao governo do Estado em 78 na convenção indireta que acabou homologando Tarcísio Burity. O seu discurso era centrado no combate aos “donos do poder”. Posteriormente, Mariz buscou se enquadrar em opções mais confortáveis na conjuntura política, aproveitando a liberalização que estava sendo devolvida ao processo institucional. Tentou organizar o PP (Partido Popular), inspirado em Tancredo Neves mas do qual fazia parte, também, o banqueiro Magalhães Pinto. Com as manobras do regime militar para encurralar as oposições, o PP decidiu fundir-se ou incorporar-se ao PMDB. Mariz esteve na linha de frente das articulações nesse sentido. No que diz respeito a insinuações de adversários de que Mariz era comunista, tratava-se de interpretação equivocada, apriorística. Na verdade, Mariz era reformista – sem prejuízo das posições vigorosas em que denunciou o Poder Judiciário e o que chamava de elites políticas retrógradas ainda atuantes na conjuntura brasileira.
Nonato Guedes