O governador paraibano Ricardo Coutinho (PSB) participou hoje pela manhã, em Brasília, da solenidade de posse de Raquel Dodge como Procuradora-Geral da República em substituição a Rodrigo Janot, que encerrou mandato de quatro anos. A cerimônia foi presidida pelo presidente Michel Temer, que em seguida embarcou para os Estados Unidos a fim de participar da Assembleia-Geral da ONU e de um jantar com o presidente Donald Trump. Num discurso de 15 minutos, a nova Procuradora-Geral, que tem como vice-procurador o jurista paraibano Luciano Mariz Maia, disse que o povo brasileiro não tolera a corrupção e pediu harmonia entre os poderes, mas evitou referências à Lava-Jato.
Uma peculiaridade distinguiu a posse de Raquel Dodge: na solenidade, ela estava cercada de políticos que estão sendo investigados ou sofrem acusações de envolvimento em atos de corrupção e propina, a partir do próprio presidente Michel Temer, que foi denunciado por Rodrigo Janot ao Supremo Tribunal Federal. Os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM, e do Senado, Eunício Oliveira, do PMDB, estão entre os políticos mencionados em insinuações de envolvimento com corrupção. Ainda assim, o presidente da República enfatizou a necessidade de respeito ao cumprimento da Lei e aos seus mandamentos, entre os quais o de que ninguém está acima do que preceituam os dispositivos legais. A única autoridade não investigada, presente à cerimônia, foi a presidente do Supremo Tribunal Federal, ministra Cármen Lúcia – ironizaram alguns comentaristas políticos da mídia sulista.
Auxiliares de Raquel Dodge afirmam que ela não tem medo de cara feia e uma de suas primeiras iniciativas será realizar um rigoroso pente fino na delação de Joesley Batista, da JBS. Fará a revisão para limpar o terreno e corrigir os equívocos que tanta polêmica tem provocado nas últimas semanas. Em matéria na revista “Istoé”, o repórter Iliminar Franco avisa: “Enganam-se aqueles que imaginam que ela passará a mão na cabeça dos envolvidos na Lava-Jato ou facilitará a blindagem de quem quer que seja. Juristas e advogados que a conheceram ao longo da carreira alertam que ninguém deve se iludir com a nova procuradora. A visita que fez à noite no Palácio do Jaburu ao presidente Michel Temer passou uma imagem errada de como ela será no exercício do cargo e diante das tarefas jurídicas e criminais que terá pela frente”.
O ministro Marco Aurélio Mello, para quem Dodge trabalhou durante muitos anos quando este era ministro do Trabalho, avisa que “as pessoas têm o direito de pensar o que quiserem, mas ela atua como acusadora com desassombro e coragem”. O ex-ministro da Justiça Eugênio Aragão, ao mesmo tempo em que declara não integrar sua patota, afirma que “não é controlável e não dará mole ao Executivo federal”. De acordo com ele, Raquel Dodge não faz negócios obscuros à noite e muito amenos aceitaria abraço de afogados. Os aliados citam como exemplo a Operação Caixa de Pandora, de 2009. Ela custou o mandato de um governador, José Roberto Arruda, do Distrito Federal, que teve sua prisão decretada e ordem executada por uma força-tarefa sob seu comando. O caso estava nas mãos do STJ, onde ela era subprocuradora e assumiu a investigação. Foi nessa condição que ela reivindicou para o então procurador geral, Roberto Gurgel, a criação de uma força-tarefa que teria como missão investigar o governador da época, o vice Paulo Octávio, secretários de estado e servidores. No final do processo, Arruda terminou perdendo o seu mandato. Está com seus direitos políticos suspensos desde então.
Nonato Guedes