Revoltado com a hipótese de impedimento da candidatura do seu líder maior Luiz Inácio Lula da Silva a presidente da República em 2018, o Partido dos Trabalhadores acena com uma reação extrema: o boicote às eleições gerais marcadas para o próximo ano. Nesse caso, o PT deixaria de lançar candidatos a presidente da República, Senado, Câmara Federal, Assembleias Legislativas e governos estaduais. Apesar das defecções que tem enfrentado e do golpe sofrido com o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o PT ainda é um dos maiores partidos do país.
Em paralelo com o boicote, que seria o “Plano C” do PT, a legenda se dedicará a uma campanha internacional de denúncias contra a suposta “falta de democracia no Brasil”. O objetivo é sensibilizar organismos influentes a fazerem pressão sobre a Justiça brasileira, conforme admitiu a senadora Gleisi Hoffmann, primeira mulher a presidir o Partido dos Trabalhadores. Ela salientou que a proposta do boicote está sendo avaliada internamente. Lula foi condenado pelo juiz Sergio Moro sob acusação de corrupção e tenta evitar que seja considerado “ficha suja” para as eleições de 2018. Até recentemente, já com a concretização da condenação do seu líder a nove anos e seis meses de prisão, os petistas vinham admitindo como alternativas para a disputa ao Planalto o ex-prefeito de São Paulo, Fernando Haddad e o petista baiano Jacques Vagner.
Uma matéria da revista “Istoé” trata Lula como “um fanfarrão cada vez mais isolado”, critica seu comportamento agressivo diante do juiz Sergio Moro e insinua que ele caminha a passos céleres rumo a uma nova condenação. À medida que as ações da Lava-Jato avançam, menores são as possibilidades de Lula disputar as próximas eleições presidenciais. Ontem, a cúpula nacional do PCdoB já avisou que tende a romper a aliança com o PT, o que ocasionou críticas dos petistas mais ortodoxos. Basileo Margarido, da REDE, assim avalia o cenário: “Sem Lula, a eleição será menos passional”. Uma das expoentes da REDE é a ex-ministra Marina Silva, que espera canalizar ainda mais o voto do inconformismo nas eleições vindouras. Quem também aposta em ocupar parcela do espaço que seria de Lula é o candidato do PDT a presidente da República, Ciro Gomes, ex-governador do Ceará e ex-ministro da Integração Nacional. Os trabalhistas acreditam que há uma tendência natural de unidade do Nordeste em torno de Ciro Gomes.
Já a esquerda radical acredita que herdará parcela do eleitorado que ficou desencantado com o caminho adotado pelos petistas. Esse é o caso de Guilherme Boulos, coordenador do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Teto, que poderá sair candidato pelo PSTU. “O projeto lulista se esgotou”, afirmou o deputado federal do PSOL Chico Alencar, do Estado do Rio, que trabalha para construir uma candidatura alternativa. “Uma prova cabal e irrefutável do isolamento petista é que o PCdoB, um apêndice do PT desde 1989, pode até lançar candidatura própria. Cogita nomes como o do ex-ministro Aldo Rabelo. Que fase!”, finaliza a revista “Istoé”.
Nonato Guedes, com agências