O exílio sempre fascinou, a busca da terra prometida sempre encanta. Está na Bíblia. Está na poesia de Manuel Bandeira, por exemplo, falando de uma Pasárgada imaginária onde se é amigo do rei, se tem a mulher que quer e a existência é uma doce aventura, ao contrário de Gonçalves Dias que cantava as palmeiras brasileiras onde canta o sabiá. Cláudia Leitte, cantora e musa baiana, parece ter incorporado o ideário bandeiriano. Morando atualmente nos Estados Unidos, onde tenta alavancar uma carreira internacional, a cantora disse, em entrevista a uma emissora de rádio, que o brasileiro é mal-educado.
A declaração veio a propósito de comentar a passagem do furacão Irma, que devastou várias cidades norte-americanas. Ao comparar se tragédia semelhante tivesse acontecido no Brasil, foi cruel com seus conterrâneos: Imagine um furacão no Brasil muita gente ia morrer esmagada. Um ia passar por cima do outro, porque a gente não tem instrução. Todo mundo quer ser vip aqui, ninguém quer pegar fila e aí acha que isso é besteira, afirmou.
Achando pouco, continuou: Eles pensam assim: Não eu vou furar fila porque eu conheço fulano de tal, eu vou passar não sei o quê porque eu tenho pistolão. Isso é errado, você tem que pegar, não pode furar o trânsito, porque aí o transito vai fluir melhor, você vai chegar no lugar de qualquer jeito. E finalizou: Todo lugar tem problema. O lance é que aqui a gente não sabe lidar com ele porque a gente não tem uma educação exata.
Sua opinião, como era de se esperar, dividiu o público e as redes sociais. Apesar de eu não gostar da genérica de Ivete mas ela só desabafou ao falar essas coisas, pois não seremos hipócritas e assumimos os nossos erros, o brasileiro tem essas coisa mesmo de se dá bem, mas também não vejo um problema generalizado, tem muita gente fazendo o certo pra que mudemos isso, afirmou um internauta. Que coisa feia, falando de seu país. Lembra que este povo mal educado é que te colocou aonde você está, rebateu outra. Que fique lá fora, já que engolimos muitas coisas ruins de lá, que engulam coisas ruins daqui!, ironizou um. Já devolveu o dinheiro da Lei Rouanet?, indagou um terceiro.
Cláudia Leitte trocou, recentemente, a maior gravadora brasileira, Som Livre, pela Roc Nation. A aposta da artista é numa carreira internacional. Se eu ficasse na minha zona de conforto, dizendo, pô, tô ganhando dinheiro pra caramba (…) eu não ia pra lugar nenhum.”, disse em entrevista a Ricardo Feltrin, colunista do UOL. Mas enquanto não sai seu primeiro disco nos states, a artista vai comparando o país do exílio com o país de origem. Se ela não já tivesse confundido a prosa do francês Exupéry com a poesia do português Fernando Pessoa quando participava do The Voice, diríamos que está neste momento recitando os seguintes versos de Bandeira:
Em Pasárgada tem tudo
É outra civilização
Tem um processo seguro
De impedir a concepção
Tem telefone automático
Tem alcalóide à vontade
Tem prostitutas bonitas
Para a gente namorar.
Linaldo Guedes