De acordo com levantamento feito pela revista “Veja”, o Supremo Tribunal Federal homologou até agora 120 delações premiadas, que atingem mais de 250 deputados, senadores, ministros e governadores. Eles são investigados em cerca de 185 inquéritos, acusados de envolvimento no escândalo da Lava-Jato. Dos políticos suspeitos, apenas seis respondem a processo e somente três já foram presos. Entre estes, figura o ex-senador petista Delcídio do Amaral, que no depoimento envolveu os ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff no esquema de corrupção da Petrobras e acusou os senadores Romero Jucá e Renan Calheiros.
O levantamento da “Veja” mostra desigualdade de tratamento entre Brasília, onde os políticos são investigados, e Curitiba, onde as investigações começaram há três anos e meio. Não houve uma única condenação até hoje na Capital federal. Em Curitiba, enquanto isso, 107 foram condenados. O senador Fernando Collor foi um dos primeiros a cair no escândalo, em Brasília mas continua “flanando” no Congresso sem ser importunado. Jaá o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi condenado em Curitiba e está na iminência de ser preso. Não obstante, Lula acredita que será elegível em 2018 e, por isso, mantém acesa a chama de uma provável candidatura novamente ao Paláacio do Planalto.
Um dos coordenadores da força-tarefa, o procurador Deltan Dallagnol, afirma: “Se nada mudar, os políticos com direito a foro ficarão impunes, mesmo que tenham sua corrupção provada pela Lava-Jato”. Entre as delações homologadas consta a do doleiro Alberto Yousseff, que apontou o envolvimento, entre outros, dos senadores Fernando Collor e Gleisi Hoffmann e dos deputados Nelson Meurer e Vander Loubet. Gleisi Hoffmann, que é senadora pelo Paraná, exerce a presidência do Partido dos Trabalhadores, tendo sido a primeira mulher a ascender a esse posto. Ela chegou a afirmar que se o ex-presidente Lula for declarado inelegível para a disputa de 2018 o PT deixará de lançar candidatos às eleições em todos os níveis, promovendo um boicote inédito na história política do país.
O dono da JBS, Joesley Batista, e o diretor da empresa Ricardo Saud entregaram ao Ministério Público Federal áudios de conversas que envolvem o presidente Michel Temer, o senador Aécio Neves, do PSDB, e o governador Fernando Pimentel, do PT. O operador do PMDB Lúcio Funaro, por sua vez, acusa, entre outros, o ministro Moreira Franco, o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade e vários deputados e senadores do PMDB de receberem propinas. Partiu do juiz Sérgio Moro, como lembra a “Veja”, a primeira condenação imputada ao ex-presidente Lula: nove anos e seis meses de cadeia. Hoje, o petista é réu em outras seis ações. Moro deve sentenciá-lo em breve num processo que investiga o recebimento de favores milionários da Odebrecht. Dedicado exclusivamente à Lava-Jato, Moro já proferiu 165 condenações e mais de duzentas ordens de prisão. As expectativas no meio político voltam-se para a atuação da nova Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, que assumiu recentemente, substituindo a Rodrigo Janot, autor da primeira denúncia formulada contra o presidente Michel Temer e que não foi levada adiante porque o plenário da Câmara negou-se a autorizar a investigação do chefe do Executivo.
Nonato Guedes