Um dos grandes problemas do sistema político brasileiro é a chamada orgia partidária, que faz com que pululem siglas de aluguel e que o controle das agremiações se torne um mecanismo de barganha ou negociata entre líderes de destaque na mídia. Ainda agora, o PEN (Partido Ecológico Nacional) está na iminência de mudar de nome e de comando. Passaria a se chamar “Patriota”, como escudo para a candidatura do deputado Jair Bolsonaro a presidente da República em 2018. Bolsonaro, diga-se de passagem, é uma das excrescências políticas do Brasil. Militar, com convicções ultra-direitistas ou reacionárias, tenta se aproveitar do cenário de desencanto ou desilusão de parcelas do eleitorado com “tudo isso que está aí” e surfar na onda, arriscando alto.
Bolsonaro passa a impressão de golpista e, para desgraça ou infelicidade da Nação, tem audiência junto a extratos da opinião pública, de tal sorte que é encarado como alternativa para a sucessão, com todo o despreparo intelectual que demonstra. É incapaz de debater em profundidade temas como a ocupação da Amazônia e a transposição das águas do rio São Francisco, no Nordeste, para citarmos dois casos extremos do ponto de vista geográfico. Não se conhece uma ideia inovadora que parta do seu cérebro em relação a temas candentes, desafiadores. Também é contraditório. Apresenta-se como purista ou como diferente, mas se submete à prática partidária orgiástica. No fundo, sonha com golpes de Estado, quarteladas e outras invenções autoritárias. É uma pena que seja acolhido por auditórios quando acena com o Mal, não com o Bem. Talvez seja o caso de considerá-lo um “Hitlerzinho” brasileiro. Mas não será demais supor que é um poltrão político, que navega em águas turvas sobretudo no campo da moral, da ética e dos costumes. Bolsonaro é um farisaico, eis o resumo.
Há outras nulidades ganhando espaços e auditórios no Brasil, à força da descrença generalizada e do desencanto com os partidos que se sucederam no exercício do poder ultimamente. O prefeito de São Paulo, João Doria, do PSDB, é uma dessas nulidades. O que o diferencia talvez sejam os punhos de renda a contrastar com a farda verde-oliva de Bolsonaro. Mas Doria, que caiu de paraquedas na atividade política, pratica em São Paulo, na prefeitura que a paraibana Luíza Erundina já ocupou, o mais deslavado populismo de que se tem notícia nos últimos tempos. Não fica a dever a Adhemar de Barros ou a Jânio Quadros, apesar das diferenças abissais, sobretudo em relação a este último, no campo intelectual. Jânio era pretensamente doido mas tinha fosfato, exercitado nos tempos em que era “lente” (atual docente ou professor) no Mato Grosso, de onde saiu para se projetar nacionalmente em São Paulo. É o que temos. Já tivemos piores, como Aécio Neves, a ostentar imagem de cordeiro e de legatário do patrimônio de Tancredo Neves, enquanto, em paradoxo visível, deixou-se pilhar recebendo propinas e ombreando-se a figuras rastaqueras da cena política brasileira.
Não faltará quem lembre, também, a necessidade de incluir Lula na constelação. Faz sentido. A aura do operário-metalúrgico e retirante nordestino, semi-analfabeto, que venceu na vida elegendo-se presidente da República por duas vezes entrou em choque com o perfil verdadeiro de vendedor de ilusões e de propagandista de xaropadas verbais. O Lula verdadeiro é o do mensalão, é o Lula do petrolão. O jornalista paraibano José Nêumanne Pinto já traçou uma biografia aproximada do autêntico personagem que é Luiz Inácio Lula da Silva em seu livro “O que eu sei de Lula”, contando bastidores da trajetória de um aventureiro político que se fez xodó das elites intelectuais e políticas. E também das camadas populares. Só não dá para esquecer a outra face de Lula: a do carreirista, do oportunista, do demagogo, que ilaqueou a boa-fé dos nordestinos incautos e purga o papel de réu, condenado pela Justiça por envolvimento em escândalos que ferem a ética e a moral. Ainda assim, desponta como favorito para uma eleição presidencial – restando conferir se legalmente será considerado elegível, diante do contencioso que cerca sua biografia tumultuada e cortada de “entrementes”.
O Brasil, lamentavelmente, está sem opção. Mas também está sem partidos, sem ideias, sem civismo, sem patriotismo de verdade e não de fancaria – do tipo que os Bolsonaro da vida apregoam. Não há muito o que fazer diante dessa conjuntura – talvez sentar-se no meio-fio e chorar, como seria capaz de sugerir o grande dramaturgo Nelson Rodrigues. Aprendi cedo, nos bancos escolares em Cajazeiras, no Sertão da Paraíba, que são as elites que infelicitam o Brasil. Elas mantêm-se vivas, ativas, manejando cordéis. A massa é exatamente massa de manobra, espécie de ornamento na coreografia política que se encena à tripa forra neste País. Confesso-me cético, por óbvio. E talvez por não ter sido dotado de bola de Cristal!
Nonato Guedes