Antonio Pallocci coroou a sua expulsão do PT jogando lama no ventilador e comparando a agremiação a uma seita que idolatra uma divindade, a saber o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pallocci é mais uma fera ferida nas hostes do Partido dos Trabalhadores, que entrou em parafuso desde que passou a meter a mão no dinheiro público e privado. A crônica da passagem pelo PT, sobretudo na Era Lula, pelo poder, está tisnada por escândalos e por atitudes nada republicanas de achaques a empresários e autoridades para efeito de enriquecimento ilícito. Pallocci, “o italianinho”, não tem nada de santo. Mas tem autoridade para falar sobre o animado clube da corrupção que se instalou na legenda, daí ter oferecido um testemunho válido – e valioso.
No que diz respeito ao “exclusivismo” e à “incoerência” do PT ao longo da trajetória dos “companheiros”, tais posturas foram agravadas com a ameaça da legenda de boicotar as eleições do ano que vem caso o ex-presidente Lula não possa ser candidato. Já houve quem comparasse a ameaça a um haraquiri político. Em princípio, é ensaio de encenação para intimidar magistrados a não tornarem Lula inelegível, uma espécie de chantagem subliminar. Gleisi Hoffmann, a diligente presidente nacional petista, sabe o caminho das pedras em situações assim, como o apelo ao Supremo Tribunal Federal para assegurar o direito de Lula concorrer – e é evidente que isto está sendo feito.
Quanto à vitória virtual e antecipada de Lula a presidente, caso seja liberado para concorrer, é um gesto de triunfalismo exacerbado, para não dizer um delírio. É claro que Lula da Silva tem votos – sobretudo no Nordeste e que teoricamente é competitivo numa disputa presidencial, inclusive, porque se deixará embalar pela vitimologia, aí embutida a teoria do revanchismo. A agonia do PT, como lembrou a revista “Istoé” tem justificativa: Lula virou heptaréu e a cúpula da legenda enfrenta as barras da Justiça. É pouco – ou querem mais? Mas importa, neste momento, recordar que o PT é especialista em remar contra a maré da opinião pública. Recentemente, petistas votaram contra a PEC do teto dos gastos. Depois disseram “não” para a imperativa Reforma Trabalhista, ignorando que a população de desempregados chega a 14 milhões. Mas perdeu feio em ambas as disputas.
No terreno, ainda, da contramão, convém lembrar aos menos avisados que o PT sabotou importantes projetos nacionais, numa conduta que já foi chamada de esquizofrênica. Em 1988, integrantes da sigla votaram contra a Constituição democrática, escrita para colocar um fim ao ciclo de 21 anos de ditadura militar. Em 1992, o partido ficou de fora da aliança construída em torno de Itamar Franco, que assumiu para acabar com os desmandos do governo Collor. Em 94, sabotou o Plano Real, conjunto de medidas que acabou com a inflação e proporcionou a estabilidade econômica nacional. Em 2000, a bancada no Congresso se opôs à Lei de Responsabilidade Fiscal.
O PT é um partido fascinado pelo “pudê” e um “trator” que se indispõe contra quem ousa deixar de rezar pela sua cartilha. A paraibana Luíza Erundina, que foi prefeita de São Paulo, sabe o que sofreu na pele quando foi admoestada pelo PT por ter participado do governo Itamar na condição de ministra-secretária da Administração. A represália petista veio traduzida na forma de boicote a ações administrativas, com isto prejudicando o êxito da gestão de Luíza Erundina na prefeitura da Capital paulista. O mais lamentável é que o Partido dos Trabalhadores continua a ser um nicho de corrupção. O ex-procurador Rodrigo Janot, numa das suas flechadas de bambu, denunciou ao STF o quadrilhão do PT por crime de organização criminosa. Quem fazia parte do listão? Os ex-presidentes Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva. Para fechar o firo, a atual presidente nacional do partido, Gleisi Hoffmann, e seu marido, Paulo Bernardo, que como ministro se locupletou do dinheiro de aposentados.
A desvantagem do PT é que as máscaras caem no meio ou no fim do baile.
Nonato Guedes