Parece roteiro de um filme de segunda categoria! Uma criança de 11 anos dirige um carro pelas ruas da sua cidade, brincando com um colega, fazendo selfie e xingando os policiais que encontra pelo caminho. Detalhe: o garoto é filho da vice-prefeita de Mamanguape, cidade localizada no litoral Norte do estado, Baby Helenita Veloso (PRTB). A mãe, enquanto isso, é destaque em outro vídeo que circulou na Internet, onde aparece vestida de rainha, chegando na avenida em um carruagem para o desfile do Dia da Independência custeado com o dinheiro público. Os vídeos, claro, viralizaram na net e foi assunto do dia ontem na Paraíba.
No interior é comum jovens menores de idade dirigirem veículos motorizados. Isso acontece porque há menos rigor na fiscalização. Os pais se orgulham em mostrar aos amigos que os filhos tão novinhos já sabem dirigir. Os amigos aplaudem. Como em cidade pequena todo mundo se conhece, fica tudo por isso mesmo e ninguém reflete sobre o crime que está sendo cometido. Afinal, se um carro na mão de um adulto pode ser uma arma perigosa, imagina na de uma criança.
Entre as postagens das redes sociais sobre o fato, pinçamos duas que consideramos interessantes. Na primeira, o professor e escritor Milton Marques Júnior questiona que tipo de educação damos aos nossos filhos. O garoto, menor de idade, dirigia um carro e insultava os policiais, verdadeiras autoridades, desautorizadas nesse Brasil de cabeça para baixo, desde Cabral (não o milionário detento, mas o outro, o navegante, que nos deixou a ver navios…). A pergunta que se faz é esta: Que educação damos a nossos filhos? Moro numa rua curta, coisa de 50 metros, perto do mercado de Miramar, que dá acesso à Beira-Rio. Além de curta, estreita. A rua é mão única. O único sentido possível de deslocamento dos carros é da Beira-Rio subindo em direção à Epitácio Pessoa. O que tem a ver a rua em que moro com o caso do menino motorista? Em dez minutos, na porta do prédio em que resido, esperando minha mulher apanhar-me para almoçarmos, contei seis carros que fizeram a contra-mão. O argumento é o mesmo: é um espaço curto, não vem carro algum, dá para fazer. Se as pessoas não pensam no óbvio – que podem causar um acidente e se complicar por causa de alguns metros a mais que teriam de percorrer – elas não pensam, muito menos, de modo algum, no que não é tão evidente: na educação que estão dando a seus filhos, pois muitos dos que fizeram a contra-mão estavam acompanhados de seus filhos, mostrando-lhes, nítida e diuturnamente, como não cumprir a lei. É este o Brasil que temos. Desde sempre. Infelizmente, comentou.
A escritora Letícia Palmeira também revelou sua indignação: O menino, de apenas onze anos, dirige livremente o carro pelas ruas da cidade. E ainda há quem ache isso bonito. Porém o mais chocante foi ter visto, na mesma notícia, a mãe do menor vestida de rainha em desfile cívico. E até carruagem havia para a vice-prefeita. Haja dinheiro público para alimentar egos. Estou entalada com a imagem da mulher, feliz da vida, desfilando no meio da rua como se estivesse em pleno carnaval carioca. Eu preciso rir disso tudo. Do contrário, irei enlouquecer e passar a sambar também. E aos que consideram normais as notícias que relatei, revejam seus conceitos de lucidez e perda total de bom senso.
Em nota enviada à imprensa, a vice-prefeita Baby Helenita Veloso pediu desculpas à sociedade e à Polícia Militar e informou que não concorda com a atitude do filho. “Não são os meus ensinamentos enquanto mãe, não foi isso que ensinei a meus filhos e tomarei as devidas providências em relação ao que ele fez”, diz. Segundo ela, o garoto pegou o carro escondido e teria aprendido a dirigir sozinho (sic). Sobre o fato de estar vestida de rainha, a vice-prefeita explicou que fez isso para simbolizar a cidade de Mamanguape, que é conhecida como a Rainha do Vale. A gestora ainda explicou que parte do dinheiro para bancar a apresentação partiu de um projeto social do município.
Linaldo Guedes