O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), garantiu que ocorrerá na última semana de outubro a votação definitiva, pelo plenário da Casa, da denúncia formulada contra o presidente Michel Temer, do PMDB, pela Procuradoria-Geral da República. O mandatário é acusado de obstrução da Justiça e envolvimento na formação de organização criminosa – e a denúncia original, formulada no período em que Rodrigo Janot era o Procurador, foi rejeitada em plenário. Na gestão, agora, da Procuradora Raquel Dodge, uma outra denúncia enfrentou problemas de quorum para votação, mas Maia deu a palavra de que o processo será acelerado.
Ontem, o deputado governista Bonifácio de Andrada, filiado ao PSDB e ligado ao grupo do senador afastado Aécio Neves, de Minas Gerais, foi anunciado como relator, na Câmara,da segunda denúncia. O grupo de Aécio, do qual Bonifácio faz parte, trabalha internamente para barrar a denúncia contra o presidente e manter o apoio do PSDB ao governo. Após o peemedebista e os ministros Moreira Franco, da Secretaria-Geral, e Eliseu Padilha, da Casa Civil, igualmente alvos de acusação, apresentarem suas defesas, o relator formulará um parecer na Comissão de Constituição e Justiça da Casa.
O parecer da CCJ vai servir de base para a votação definitiva em plenário. Para que o Supremo Tribunal Federal seja autorizado a analisar a denúncia, é preciso o voto de pelo menos 342 dos 513 deputados. O relator foi escolhido pelo presidente da Comissão de Constituição e Justiça, Rodrigo Pacheco, do PMDB-Minas Gerais. Sobre as insinuações de participação em organização criminosa, recai sobre Temer a suspeita de ter recebido pelo menos R$ 587 milhões de propina. Na primeira denúncia, em que era acusado de corrupção, o presidente congelou o caso com o voto de 263 deputados – outros 227 foram favoráveis ao prosseguimento da ação. Naquela ocasião, Bonifácio de Andrada votou favoravelmente ao presidente da República. O tucano tem 87 anos de idade, é advogado, professor universitário e descendente de José Bonifácio de Andrada e Silva, um dos principais articuladores da independência do Brasil. O presidente Michel Temer já deflagrou uma série de reuniões com interlocutores da sua base política para neutralizar a ofensiva que persiste contra ele na Câmara.
O governo dele, enquanto isso, segue colecionando índices negativos de aprovação. Ontem, os dados da pesquisa Ibope, encomendada pela Confederação Nacional da Indústria, detectaram que o governo Temer atingiu os piores índices de avaliação, aprovação e confiança entre brasileiros. No levantamento realizado neste mês, o percentual de entrevistados que avaliam a gestão como ruim ou péssima cresceu de 70% para 77% em relação à pesquisa anterior feita em julho. Esse é o quarto trimestre consecutivo de piora na popularidade do presidente da República. Foram entrevistadas 2.000 pessoas em 126 municípios entre 15 e 20 de setembro.
Nonato Guedes