O Palácio do Planalto trabalha para que a defesa do presidente Michel Temer diante de acusações da Procuradoria-Geral da República sobre possível obstrução de Justiça e organização criminosa chegue à Comissão de Constituição e Justiça no meio da próxima semana, com isso agilizando-se a tramitação e evitando-se o risco de um impasse institucional. O advogado Eduardo Carnelós confessou a aliados que queria um pouco mais de tempo, até o meio da semana, explicando que o caso exige uma estratégia articulada com os defensores dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), igualmente acusados na denúncia do MPF.
A tropa de choque do presidente Temer irritou-se com as críticas de dissidentes tucanos à escolha do deputado Bonifácio de Andrada (PSDB-MG) para ser o relator da segunda denúncia contra Temer no âmbito da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara. O vice-líder governista, deputado Beto Mansur, do PRB-SP, disse que se trata de um desrespeito a um parlamentar que é um dos mais antigos da Casa e possui notório saber jurídico. Mansur esteve com Temer para refazer o mapeamento de votos na CCJ. Em contatos com parlamentares, o próprio Bonifácio relatou que estava sendo pressionado pelo partido a opinar contra Temer. No entanto, ele afirmou que fará um juízo de valor distinto em relação ao presidente e aos ministros igualmente denunciados.
– Cada um tem uma diferenciação em relação aos seus comportamentos e aos seus problemas – frisou Andrada, acrescentando que as delações premiadas não têm força poderosa para acusação, servindo apenas como elemento auxiliar para o debate. Mesmo sem opinar sobre o mérito do relatório que pretende apresentar, o tucano disse que a parte da organização criminosa precisa estar suficientemente esclarecida para, então, ser levada em conta. O nome de Andrada, num primeiro momento, foi comemorado entre os governistas. Nos bastidores, afirma-se que há uma ação casada entre a indicação e o trabalho do Palácio do Planalto para reverteer no Senado a decisão do Supremo Tribunal Federal que afastou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) do mandato.
Nonato Guedes, com “O Globo”