Ele já está recauchutando sua imagem até no exterior, buscando aparecer como um liberal junto aos empresários e “mass media” dos Estados Unidos, por exemplo. Esse esforço do deputado Jair Messias Bolsonaro, que se prepara para fundar o partido “Patriota”, sucedâneo do PEN, Partido Ecológico Nacional, e que é representante do Estado do Rio na Câmara, é parte da estratégia que visa a mostrá-lo como pré-candidato competitivo e preparado para a presidência da República do Brasil. Uma pesquisa divulgada neste sábado pelo instituto Paraná revela que Bolsonaro já detém 18,5% das intenções de voto para a corrida presidencial. Na frente dele, apenas o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que governou duas vezes, teve influência nas eleições da sucessora, Dilma Rousseff (afastada devido a um processo de impeachment) e que pode ser impedido de concorrer novamente se vier a ser considerado um político “ficha suja”.
Condenado pelo juiz Sérgio Moro, que está se despedindo da Operação Lava Jato, a nove anos e seis meses de prisão, Lula ainda enfrenta batalha judicial para derrogar a pena que lhe foi imputada e pavimentar o terreno para ser candidato no próximo ano. O ex-presidente lidera as intenções de voto detectadas em diferentes levantamentos de opinião pública, de forma preliminar. Na pesquisa do instituto Paraná, aparece com 26,6%, seguido por Bolsonaro, por João Doria, prefeito de São Paulo e filiado ao PSDB, pela ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, e pelo ex-ministro e ex-governador do Ceará, Ciro Gomes. Ainda é lembrado eventualmente nas intenções de voto o nome do ministro Joaquim Barbosa, que ganhou projeção quando foi relator do processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal e quando ascendeu à própria presidência do STF, tornando-se o primeiro negro a dirigir a mais alta instituição do status de poder no Brasil.
Bolsonaro, um militar que defende ideias direitistas e que tem por hábito destratar jornalistas que lhe fazem perguntas desagradáveis, tem percorrido alguns Estados a convite e propagado sua pregação, com êxito, junto a auditórios desencantados com os políticos tradicionais, diante dos escândalos que têm pipocado na conjuntura brasileira. A dúvida, para os analistas políticos, é se Bolsonaro tem chances de crescer no páreo e se consolidar de vez ou se, ao comtrário, pode embicar na pré-disputa e decair do percentual que atualmente ostenta e que para ele é significativamente expressivo. Causa surpresa a analistas que um pré-candidato como Ciro Gomes, que já disputou eleições presidenciais, esteja em último lugar nas pesquisas preliminares para 2018. Isso teria a ver, dizem, com o estilo considerado agressivo com que Ciro se porta em entrevistas ou em palestras. A imagem cristalizada dele em alguns núcleos formadores de opinião é de um candidato com o chamado “pavio curto”, portanto, sem condições emocionais para enfrentar os desafios que o cargo de presidente da República impõe.
Em outras oportunidades, Ciro Gomes desenvolveu a tática de tentar plantar-se em São Paulo, aproveitando a condição do Estado de vitrine política nacional, mas não logrou êxito maior e se depara com concorrentes que atuam naturalmente em São Paulo, a exemplo de Lula, do governador Geraldo Alckmin e do agora prefeito João Doria. Para o PT, o grande problema, além do risco de inelegibilidade de Lula, diz respeito à perda de hegemonia do partido no segmento de esquerda entre as agremiações políticas brasileiras. O desgaste do PT, oriundo de escândalos como o mensalão e o petrolão e de prisões de líderes como José Dirceu e Antonio Palocci, além dos processos a que responde o fundador e líder maior Lula, provoca a emergência natural de outras forças nesse território. O PCdoB, atento às oscilações da conjuntura, já sinalizou “descolamento” dos petistas e prepara candidatura própria a presidente da República. Em tese a corrida está indefinida devido aos problemas que partidos e políticos enfrentam. O único fato concreto é que o presidente Michel Temer (PMDB), embora tenha direito, não deve concorrer à reeleição, em face dos altos percentuais de reprovação que seu governo experimenta – a gestão de Temer teria aprovação de apenas 5% do eleitorado. Bolsonaro pode se beneficiar da conjuntura atípica mas, também, pode ser descartado. O eleitor dá sinais de que ainda pretende explorar opções mais consistentes que possam ganhar seu voto na disputa do próximo ano.
Nonato Guedes