O ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (RJ), está encarcerado há 345 dias, é o político mais temido na atualidade, pelas informações de alta octonagem que possui sobre figurões da República envolvidos em escândalos, e aguarda pacientemente a hora de depor à Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge. Numa entrevista exclusiva que concedeu à revista “Época”, Eduardo Cunha, o homem que derrubou Dilma Rousseff, articulando na Câmara o seu processo de impeachment, diz que o juiz Sérgio Moro, executor da Operação Lava-Jato, quis posar de salvador da Pátria e ao mesmo tempo destruir a elite política brasileira. “Conseguiu o que queria”, desabafa Eduardo Cunha.
A sua delação chegou a ser negociada insistentemente com o ex-Procurador-Geral da República Rodrigo Janot, mas houve suspeitas quanto à sinceridade de Cunha em alguns pontos e os entendimentos não prosperaram, de tal sorte que Janot deixou o cargo, para o qual desejava ser reeleito, sem ter exibido o que seria um troféu – o depoimento do ex-parlamentar peemedebista. De acordo com matéria de Diego Escosteguy, publicada na “Época”, um ano de cárcere não foi suficiente para “quebrar” Eduardo Cunha, que liderava uma bancada expressiva quando tinha poder na Câmara, recrutada entre expoentes do baixo clero e da qual faziam parte políticos paraibanos como o deputado federal Hugo Motta, do PMDB, em cuja residência, na cidade de Patos, durante o período junino, uma filha de Cunha ficou hospedada.
Habitualmente baseado na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, Eduardo Cunha foi recambiado na última semana para Brasília a fim de prestar depoimentos e informações complementares em outros processos que tramitam contra ele. O ex-presidente da Câmara antecipou ter informações que comprometem inúmeras delações premiadas feitas até agora às autoridades policiais e judiciárias. Cunha pode comprometer e complicar a situação do presidente Michel Temer, a quem favoreceu quando se empenhou a fundo no processo de impeachment de Dilma Rousseff. A ex-presidente petista, aliás, tem sido recorrente em alguns desabafos ao atribuir poderes excepcionais a Eduardo Cunha no processo que conduziu ao seu afastamento do cargo. Numa entrevista que concedeu à revista “CartaCapital”, Dilma Rousseff chegou a enfatizar: “Este não é o governo do Temer, é o governo do Cunha”.
Dilma, nessa entrevista, explicitou melhor o seu ponto de vista: “Já vi o PMDB como partido de centro e acho que segmentos dele ainda são, mas uma parte do PMDB foi de fato capturada para uma posição conservadora de direita. Perdão, é falar mal dos conservadores, na realidade são golpistas de direita. Acho que houve um processo dentro do PMDB de reagrupação de forças, de tal forma que a hegemonia dentro do partido passou a sr exercida por Eduardo Cunha e seu grupo. Mesmo quando foi afastado pelo Supremo, ele continuou dando as cartas na Câmara e no governo. E mesmo no Senado, através de Romero Jucá”. Rousseff opinou, em maio de 2016, que o processo de seu afastamento passaria por várias fases. E cunhou uma definição: “O golé é o parasita, a democracia o hospedeiro. Este precisa ser salvo”. Eduardo Cunha, na matéria de capa da “Época”, que já está circulando, informa ter assinado um termo de confidencialidade com a Procuradora-Geral da República Raquel Dodge e que está disposto a contar tudo o que sabe.
Nonato Guedes, com “Época”