O reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, professor Luiz Carlos Cancellier de Olivo, valeu-se do suicídio para praticar um ato político de forte impacto na população. Além de optar pelo espaço mais visitado e de maior movimentação nas manhãs de segunda-feira, em Florianópolis, ele deixou um bilhete que pode explicar as razões de seu gesto.
Segundo fonte da Policia Civil, um bilhete foi escrito pelo professor Cancellier, onde teria escrito: “Minha morte foi decretada no dia de minha prisão”.
O reitor não conseguiu neutralizar os efeitos políticos, sociais e psicológicos da sua prisão na Operação Ouvidos Moucos. Com toda a vida dedicada à Universidade e à educação viu o esforço acadêmico e político de décadas desmoronar do dia para a noite.
A partir da prisão viveu dias terríveis, segundo os amigos mais chegados. Iniciou um processo depressivo, tinha aconselhamento psiquiátrico e tomava medicamentos para neutralizar o impacto psicológico da prisão e todo o processo humilhante a que foi submetido.
Seu irmão, o jornalista Júlio Cancellier, está inconsolável com a morte do reitor. Com ele esteve no domingo e constatou que Luiz Cancellier estava duplamente contente: por ter autorização para ir à UFSC participar de banca examinadora no Curso de Pós-Graduação em Direito e pela vitória do Hercilio Luz, seu time de coração em Tubarão.
Ele costumava se manifestar inconformado sobretudo, porque todos os supostos atos irregulares na UFSC foram praticados, segundo a própria Polícia Federal, nas gestões anteriores à sua. Além disso, sua formação acadêmica ocorreu na área do Direito e da Justiça. E ele se sentia o maior dos injustiçados com a prisão na Operação Ouvidos Moucos. Dizia que não encontrava qualquer explicação para o ocorrido.
Nos primeiros dias ficou confiante em decisão da Justiça que o beneficiasse, especialmente, depois dos esclarecimentos dados no longo depoimento na Polícia Federal.
De acordo com pessoas mais próximas, a autorização da juíza federal de autorizar sua presença na UFSC por apenas duas horas e meia pode ter sido o fato que o levou a praticar o suicídio. Ele já meditara sobre a possibilidade de retorno, mas sempre preocupado com o abalo da imagem e o ferimento mortal de sua liderança, fatos que o impediria de concluir o mandato na Reitoria da UFSC. Ele completou o primeiro dos quatro anos de gestão no mês de maio.
O campus da Trindade está com bandeiras a meio mastro. As atividades administrativas foram suspensas. E os trabalhos acadêmicos também deverão ser encerrados em vários cursos a tarde e a noite.
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) emitiu a seguinte nota:
A Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), profundamente consternada, comunica o trágico falecimento do Prof. Dr. Luiz Carlos Cancellier, Reitor da Universidade Federal de Santa Catarina, ocorrido na manhã desta segunda-feira. O sentimento de pesar compartilhado por todos/as os/as reitores/as das universidades públicas federais, neste momento, é acompanhado de absoluta indignação e inconformismo com o modo como foi tratado por autoridades públicas o Reitor Cancellier, ante um processo de apuração de atos administrativos, ainda em andamento e sem juízo formado. É inaceitável que pessoas de bem, investidas de responsabilidades públicas de enorme repercussão social tenham a sua honra destroçada em razão da atuação desmedida do aparato estatal. É inadmissível que o país continue tolerando práticas de um Estado policial, em que os direitos mais fundamentais dos cidadãos são postos de lado em nome de um moralismo espetacular. É igualmente intolerável a campanha que os adversários das universidades públicas brasileiras hoje travam, desqualificando suas realizações e seus gestores, como justificativa para suprimir o direito dos cidadãos à educação pública e gratuita. Infelizmente, todos esses fatos se juntam na tragédia que hoje temos que enfrentar com a perda de um dirigente que por muitos anos serviu à causa pública. A ANDIFES manifesta a sua solidariedade aos familiares e amigos do Reitor Cancellier e continuará lutando pelo respeito devido às universidades públicas federais, patrimônio de toda a sociedade brasileira.
Da Redação com informações do Blog de Moacir Pereira