O suicídio do reitor da Universidade Federal de Santa Catarina tem movimentado as redes sociais. Segundo a Polícia Militar, ele se atirou do último piso em direção ao vão central do Beirama Shopping, em Florianópolis. Minha morte foi decretada no dia de minha prisão, disse o professor, em bilhete encontrado pela Polícia.
Conforme informações da imprensa, Cancellier havia sido preso temporariamente no dia 14 de setembro na Operação Ouvidos Moucos da Polícia Federal, que investiga desvio de verba em bolsas de educação à distância do programa Universidade Aberta do Brasil (UAB). Ele e outros seis investigados ficaram presos por um dia.
Nas redes sociais, professores, como Carlos André Cavalcanti, da Universidade Federal da Paraíba, compartilharam notícias e notas de solidariedade. Uma delas dos colegas do reitor suicidado pelo Estado Policialesco coxinha implantado com o golpe de 2016, segundo ele.
Eis a nota: “Hoje foi um dia de profunda tristeza na Universidade Federal de Santa Catarina. Um dia onde perdemos o amigo, o colega de departamento e o reitor de nossa universidade. O colega de voz calma que sempre buscava construir o diálogo e o meio termo (Luiz Cancellier era leitor assíduo de Habermas e acreditava na construção dialógica de consensos possíveis). O colega que optara por estudar Direito e Literatura, fugindo das lides forenses que nos endurecem nos embates do cotidiano, se refugiando na doçura da arte de um Shakespeare, de um Kafka, de um Camus, de um Machado de Assis, de uma Cecília Meireles. O colega que era respeitado no CCJ pela habilidade com que resolvia conflitos e que se tornou reitor de uma das mais importantes universidades da América Latina. Perdemos o colega para o punitivismo de um Estado policialesco (e de uma parte da sociedade que adere a esse discurso) que rebaixa todos à condição de criminosos prévios, sem direito à defesa ou contraditório. Que primeiro prende e depois investiga. Que destrói reputações e depois arquiva. Perdemos o colega para o senso comum que denuncia, condena e executa com base no achismo. Perdemos o colega para elementos de exceção que se continuarem a ser alimentados poderão levar a caminhos perigosos para a nossa jovem, mas já combalida democracia. Perdemos o amigo para um estilo de processo penal que tem crescido nos últimos anos em nosso país, altamente seletivo e inquisitorial, baseado em um discurso de emergência que elege inimigos e bodes-expiatórios de ocasião. Para um tipo de Justiça de iluminados que separa o mundo entre os puros e os impuros e que decreta cruzadas para derrotar o inimigo difuso. Cau foi imolado nesse contexto. Temos muito que aprender com isso. Adeus Cau!”
O professor Éder Dantas também deixou seu protesto: O caso do suicídio do Reitor da UFSC tem ampla repercussão. Professor respeitado, Luiz Cancellier foi preso, humilhado, afastado do cargo e proibido de entrar na universidade, após denúncia de corrupção ainda sob investigação. Acadêmicos, Andifes e OAB e outras entidades denunciam arbitrariedade da justiça, MP e PF no caso. Vivemos um momento em que todos parecem ser culpados até que provem sua inocência, quando deveria ser o inverso. Os direitos individuais acabaram no Brasil? Viramos um Estado policial? Já o professor Luiz Sousa Júnior questionou o silêncio do Sindicato Nacional dos professores com o suicídio do reitor.
Linaldo Guedes