O PT paraibano é um zero na aritmética da cúpula nacional, do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação, Fernando Haddad. Lula e a ex-presidente Dilma Rousseff estiveram aqui em momentos distintos, ora na inspeção informal às obras de transposição do rio São Francisco, ora por ocasião da caravana que Lula idealizou por Estados nordestinos para reatar o seu contato com a voz rouca das ruas, que havia se esgarçado na maré de escândalos e no prontuário de prisões de líderes que passaram, trêfegos, das páginas políticas paras páginas policiais. Nem Lula nem Dilma “paparicaram” a companheirada paraibana que segurou adesivos nas esquinas em campanhas memoráveis. O xodó dos ex-presidentes foi um antigo militante que quase foi expulso do partido porque queria ser candidato a prefeito de João Pessoa – Ricardo Coutinho. O atual governador escafedeu-se da sigla petista e entrou no PSB para garantir seu espaço. Foi eleito e reeleito prefeito, no PSB. Também pelo PSB foi eleito e reeleito governador. Uma dor de cotovelo repontou entre petistas provincianos.
O “cotovelismo” dos petistas daqui agravou-se quando Lula e Dilma cumularam Ricardo de atenções principescas, esparramando elogios à sua gestão ousada na Paraíba e à sua altivez na tomada de posições – como quando demarcou distância do governo do presidente Temer por considerá-lo ilegítimo e golpista. Coutinho foi tratado, tardiamente, como se fosse a estrela maior do PT no Estado da Paraíba. A petezada paraibana veio a reboque e endossou o discurso que consistia em ver qualidades no governador que antes não haviam sido percebidas. Tudo bem, já foi dito que louco é quem tem ideia fixa e a ela se aferra. Os petistas paraibanos aclamaram Ricardo como espécie de seu chefe, ainda que sem lhe passar cheque em branco ou emitir apoio incondicional. Até então a aposta era em Luciano Cartaxo, eleito único prefeito petista em Capitais nordestinas. Mas eis que Cartaxo pressentiu a tempestade que dizimaria o PT e buscou com urgência um bote salva-vidas, encontrado no PSD de Rômulo Gouveia, ligado ao senador tucano Cássio Cunha Lima, inimigo figadal da militância petista. No frigir dos ovos, o PT ficou mesmo sem prefeitura de Capital no Nordeste – e fora daí nada de excepcional aconteceu.
Agora, vem Haddad e esnoba os petistas da terra tabajara. Tudo bem que o convite partiu de um instituto de representação classista, não de agremiação partidária conectada com o PT. Mas Haddad, pelo visto, já sinalizou que não quer nem conversa com a turma do PT daqui. Ficará flanando pelas nossas praias, após os debates, em outras companhias aparentemente menos tóxicas. Quanto ao “mimimi” de que Haddad deveria fazer a côrte à petelândia porque talvez venha a precisar dela se for candidato a presidente da República, é tema que não parece causar urticária no ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo. Haddad acha que não deve satisfações à tropa de um pedaço do Nordeste.
Cabe contar uma historinha ilustrativa de como funcionam as vaidades no poder. A paraibana de Uiraúna Luíza Erundina, que fez militância política em São Paulo, foi eleita prefeita de uma das maiores Capitais da América Latina. Os petistas paraibanos foram ao delírio. A primeira providência que tomaram foi a de preparar uma recepção calorosa à conterrânea no seu Estado como justa homenagem pela façanha que havia prodigalizado. Erundina veio – e no aeroporto Castro Pinto havia um cidadão de cabelos brancos tentando aproximar-se dela para um abraço afetivo, significando reencontro caloroso. “Afasta, afasta…pelego não entra aqui”, rugiam os petistas. Até que Luíza avistou de longe o dito cidadão respeitável e correu pela pista em sua direção para um abraço de cortar coração. Boquiabertos, os petistas locais entreolharam-se e indagaram o que o cidadão representava para Erundina. “Ele foi meu chefe, segurou minha barra em plena ditadura militar”, reagiu Erundina. O cidadão em questão atendia pelo nome de Amir Gaudêncio, expoente de família tradicional paraibana, que como superintendente do Iapas na Paraíba foi chefe da então assistente social Luíza Erundina. Amir foi um dos mais dignos homens que já conheci. Sabia preservar a amizade mesmo com quem estava no ostracismo – exatamente porque era digno, decente. Da claque que apupou Amir, lembro bem, fazia parte Adalberto Fulgêncio, que presidiu o PT por sete anos na Paraíba, foi premiado na Funasa em Brasília, para a qual passara por concurso, e que para ser fiel ao poder de hoje representado pelo prefeito Luciano Cartaxo mantém providencial distância dos “velhos companheiros de jornada”.
Um enredo digno de Nelson Rodrigues, o Anjo Pornográfico, que ensinou como ninguém “A Vida Como Ela é”. Pois é!
Nonato Guedes