Foi em 1961 que a Câmara Municipal de João Pessoa – ora celebrando 70 anos de atuação – passou a ser denominada de “Casa Napoleão Laureano”, numa homenagem ao vereador e médico que se destacou, inclusive, a nível nacional, pela luta em favor dos portadores de câncer, doença que o vitimou. Nascido em Natuba, interior do Estado, pequena localidade que na época era distrito de Umbuzeiro, Napoleão desde jovem mostrou firmeza de propósitos e vontade férrea de vencer obstáculos, segundo depõe o médico Antônio Carneiro Arnaud, ex-prefeito de João Pessoa e presidente da Fundação Laureano. Sua dedicação no atendimento aos pobres fê-lo ingressar na política em 1945, por ocasião da redemocratização, filiando-se à UDN, partido pelo qual se elegeu vereador em João Pessoa.
Partiu do jornalista Pompeu de Souza, da imprensa do Rio, a sugestão para que fosse criado um órgão responsável pelos recursos arrecadados no mutirão que Laureano idealizou. Nasceu, aí, a fundação que ganharia o nome do médico e que se expandiu de forma vertiginosa. Dona Darcy Vargas, primeira-dama do país, foi escolhida presidente de honra da instituição, de cuja diretoria fizeram parte, também, o ex-senador Rui Carneiro e o jornalista e empresário Assis Chateaubriand, fundador dos Diários e Emissoras Associados. As sucessivas batalhas empreendidas culminaram com a construção do hospital, exemplo de solidariedade marcante. “A partir da sua inauguração em fevereiro de 1962, a luta contra o câncer na Paraíba passou a ter duas fases – uma anterior e outra posterior ao Hospital Napoleão Laureano”, avalia Carneiro Arnaud.
Em plaquete sobre a vida e obra de Napoleão Rodrigues Laureano, publicada pelo jornal “A União”, o historiador Luiz Hugo Guimarães informa que em 1943 ele foi diplomado pela Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pernambuco, tendo sido discípulo do renomado professor Ageu Magalhães. Especializou-se em cirurgia do câncer e logo após a formatura voltou para João Pessoa e abriu consultório, oferecendo serviços nas seguintes especialidades: doenças das senhoras, operações, partos, tratamento cirúrgico das cicatrizes e outros defeitos congênitos ou adquiridos. Ao lado do doutor Asdrúbal Marsiglia dee Oliveira, Laureano foi um dos primeiros médicos paraibanos a se dedicarem ao tratamento do câncer, então uma enfermidade maldita e preconceituosa nos anos 40.
Como candidato a vereador, Napoleão obteve votação consagradora, ficando em segundo lugar com 959 votos, suplantado apenas pelo vereador Cabral Batista. Na primeira eleição da Mesa Diretora, ele foi escolhido vice-presidente, tendo logo em seguida assumido a presidência, já que o presidente Miguel Bastos investiu-se na prefeitura, diante das licenças de prefeito e vice para tratamento de saúde. Assim, Laureano foi o primeiro presidente do legislativo pessoense nessa nova fase. “Sua liderança era inconteste, pois chegou a ser presidente no período de 49/51, tendo se afastado por ter sido acometido de câncer. Com sua morte a 31 de maio de 1951 deixou de assumir a presidência da Câmara. Logo após a sua morte, no dia cinco de junho, o vereador Miguel Bastos Lisboa foi eleito para substituí-lo. Era governador do Estado José Américo de Almeida.
A doença de Laureano ensejou uma grande campanha nacional em prol da assistência hospitalar aos cancerosos do Brasil, contribuindo para a fundação do Hospital do Câncer da Paraíba e a criação da Fundação Nacional do Câncer no Rio. Por sua dedicação à causa, foi consagrado como patrono dos cancerosos. O noticiário de “A União”, a partir de 13 de março de 1951, passou a informar com assiduidade a situação da saúde de Napoleão, assim como os jornais do Rio de Janeiro passaram a se ocupar da sua situação, enfatizando o quadro nacional, em que 30 mil brasileiros eram portadores da enfermidade. No dia 16 de março, Napoleão seguiu para o Rio numa tentativa final para curar-se. Sua ida visava submeter-se a um tratamento de soroterapia, baseado nos estudos do cientista russo Bogolomet e do francês Darach e adaptado no Rio pelo conhecido médico Fiedler Hungria. Antes, ele fora aos Estados Unidos, onde permaneceu alguns meses tratando-se no Memorial Center Hospital de Nova York, onde os especialistas o haviam desenganado ante as precárias condições do combate ao câncer na época, dando-lhe semanas ou meses de vida. Em Recife, onde esteve após retornar dos EUA, foi sempre cercado dos cuidados da classe médica e de populares. Foi aberta uma subscrição pública para custear sua viagem ao Rio, mas as despesas previstas eram enormes, daí Napoleão ter feito um apelo aos paraibanos através dos “Diários Associados”, assim resumido: “Ajude-me a morrer tranquilo”. Aproveitou sua breve existência para traçar um vasto plano de ação em benefício dos portadores de câncer no Brasil. Sempre se queixava de que a demora em se auto-diagnosticar foi por conta da falta de aparelhagem na Paraíba. O câncer que atingiu Napoleão estava localizado no maxilar e em menos de um ano do aparecimento dos primeiros sintomas dominara-lhe inteiramente o organismo. Napoleão Laureano faleceu no Rio, onde o corpo foi embalsamado, sendo transportado em avião da FAB para João Pessoa. Onze anos depois do faleecimento do grande mártir, em 24 de fevereiro de 1962, foi inaugurado o Hospital do Câncer Napoleão Laurreano. O sonho de Napoleão Laureano, enfim, tornara-se realidade.
Nonato Guedes