Com a derrocada do PT, criou-se no PSDB a expectativa de que a legenda ocupasse os espaços políticos, invertendo-se a polarização que até o impeachment de Dilma Rousseff favoreceu o petismo. Mas na corrida para 2018 o ninho tucano está assanhado com a briga surda travada pelo governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e pelo prefeito da Capital paulista, João Doria. Um levantamento feito pelo Instituto Paraná e divulgado pela revista “Istoé” mostra que Doria ganha de Alckmin em todos os quesitos, tanto por representar o “novo” quanto por não ter o seu nome citado na Lava Jato.
Alckmin já foi testado na disputa pelo Planalto e não se deu bem. Ganhou o apelido pouco honroso de “picolé de chuchu”, derivado da circunstância de não empolgar eleitores nem ter o carisma que se exige de um líder potencialmente aspirante ao Palácio do Planalto. Doria ainda está no início do seu estágio probatório em política como prefeito de São Paulo e tenta praticar um populismo elitista que tem a desvantagem de não identificá-lo expressamente com camadas sociais, tornando-se etéreo e fluido na penetração em segmentos do eleitorado brasileiro. Não ter o nome citado na Lava Jato é um trunfo para Doria, mas isto só não basta. A população está cada vez mais exigente e Doria tem que corresponder em outros quesitos que vão pautar o comportamento dos que vão às urnas em 2018.
O tucanato sofreu um forte desgaste com os escândalos envolvendo o senador sub-judice por Minas Gerais Aécio Neves, que perdeu terreno como suposto mito político dada a sua procedência, por ser neto de Tancredo Neves, o presidente que não pôde assumir por problemas de saúde e que deixou uma ponta de frustração na opinião pública brasileira. Aécio foi pego no contrapé, envolto no manto da imoralidade, o que é uma afronta à biografia construída com tanto zelo e paciência pelo doutor Tancredo. O descompromisso de Aécio com as questões éticas labora contra ele em qualquer cenário que se desenhe, ameaçando pretensões suas até mesmo no território político mineiro, onde aparentemente reinava soberano.
A corrida presidencial, em todo caso, está condicionada a uma assertiva: o tira-teima sobre se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderá ou não ser candidato, ou seja, se Lula tem condições de inelegibilidade, uma vez que foi condenado pelo juiz Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão. O PT aposta todas as suas fichas em Lula, descartando Plano A, B ou C. No dizer da senadora Gleisi Hoffmann, primeira mulher a presidir a legenda nascida no ABC paulista, só há um Plano no PT a dados de hoje – o Plano “L”, de Lula. Trata-se de um risco, mas o PT se dispõe a enfrentá-lo, inclusive porque já optou pela estratégia de não lançar candidatos a cargos majoritários caso fique inviabilizada a pretensão de Lula. O objetivo tático seria o de desmoralizar o processo eleitoral do próximo ano e o processo democrático brasileiro, jogando para a plateia mundial com a falácia de que este país sobrevive à custa de golpes políticos sancionados pelo Congresso.
Não sendo Lula o candidato, sinalizam as projeções que poderá se abrir o espaço para a penetração de um candidato perigoso para as instituições – o capitão e deputado Jair Messias Bolsonaro, que busca aparecer como a pomada maravilha para um bando de eleitores desesperados e descrentes no quadro político-formal que temos em vigor no Brasil. Bolsonaro não tem propostas inovadoras nem vantajosas para o povo brasileiro – e é aí onde mora o perigo. Ele apenas vocaliza insatisfações. Numa conjuntura assim, vira o símbolo do “quanto pior, melhor”, o que, decididamente, não é o caminho de que o Brasil precisa. Seja como for, convém acompanhar com atenção e interesse a disputa interna no PSDB para ungir o candidato a presidente da República. É o fato que pode agitar o insosso cenário político que vai se arrastando melancolicamente para o próximo ano. A conferir, então!
Nonato Guedes