“Está tudo dominado: em troca do atendimento de seus pleitos individuais, os congressistas prometem enterrar a segunda denúncia contra o presidente Michel Temer. É o que acontecerá”. O texto-chamada ilustra uma reportagem da revista “Istoé” sobre o balcão de negócios que continua funcionando a todo vapor em Brasília. A equipe do governo incorporou ao balcão de negócios as chamadas execuções extras, ou seja, o Planalto está raspando o caixa dos ministérios e direcionando o dinheiro para os municípios e cidades onde os deputados possuem eleitores.
De acordo com a reportagem de Ary Filgueira, o ministério das Cidades disponibilizou R$ 1,31 bilhão, oriundos de sobras de verba, para atender a políticos que prometem ser fiéis ao governo federal. No total, o Planalto empenhou R$ 272,7 milhões em emendas parlamentares em setembro. Foram negociadas facilidades para a inscrição de times de futebol em campeonatos e até jogos de camisas foram pedidos. Deputados também pediram a criação de Universidades no interior e ajuda para Santas Casas. E é grande a pressão pela nomeação de apadrinhados para diversos cargos na administração, sobretudo em estatais.
Os deputados sabem que no varejão das negociatas, quem falar mais grosso tem mais chances de levar – acrescenta a reportagem da “Istoé”, lembrando a romaria de parlamentares da semana passada, em que mais de 40 num único dia participaram de convescotes com o presidente Temer e lançaram-se à barganha, definido como o esporte predileto praticado na Capital Federal nos tempos recentes. A história se repete com um detalhe que embute mais risco: p governo está com o caixa praticamente zerado para liberar novas emendas individuais, o que indica uma posição mais delicada em relação ao quadro que antecedeu a primeira acusação. Pior: algumas emendas que o Planalto prometeu empenhar na peleja anterior não foram quitadas até agora. O próprio vice-líder do governo na Câmara, Beto Mansur, do PRB, informou que não teve seus pleitos atendidos até agora.
Também repetindo a estratégia anterior, a equipe do Palácio do Planalto faz o possível para manter o controle da Comissão de Constituição e Justiça, que é a porta de entrada para o pedido de abertura de inquérito pelo Supremo Tribunal Federal. Na denúncia passada, Temer usou a força de sua bancada na Câmara para manejar peças importantes na CCJ. Na agenda palaciana bastante movimentada, 12 horas de audiências com parlamentares chegaram a ser consumidas. O destino do presidente Michel Temer continua nas mãos do Congresso Nacional e o peemedebista encara com naturalidade as barganhas que estão sendo feitas em Brasília.
Nonato Guedes