Nas eleições municipais de 1992, a esquerda ampliou seus espaços de representação na Câmara Municipal de João Pessoa. De dois representantes de partidos diferentes na legislatura anterior – Derly Pereira, do PT, e Renô Macaúbas, do PCdoB, a Casa de Napoleão Laureano passou a contar, em 93, com três integrantes do PT: o hoje governador Ricardo Coutinho, Avenzoar Arruda e Carlos Barbosa de Sousa (CBS). Avenzoar chegou a ser deputado federal e CBS notabilizou-se pela obsessão em documentar, com filmagens e gravações, pronunciamentos e debates entre parlamentares mirins. Derly Pereira foi o primeiro candidato do PT ao governo da Paraíba em 1982, concorrendo contra Antônio Mariz e Wilson Braga (este, vitorioso).
No livro comemorativo aos 50 anos de história da Câmara da Capital, fruto de pesquisa realizada pela Mesa entre 1994/1996 e que teve editoração da “Textoarte”, dirigida pelo jornalista Fernando Moura, informa-se que o aumento do número de representantes esquerdistas no Legislativo era atribuído à insatisfação do eleitorado, então estarrecido com escândalos no Congresso Nacional, com o impeachment do presidente Fernando Collor de Melo, crise econômica e agravamento de problemas sociais. A bancada situacionista na Câmara procurou neutralizar o discurso ideológico dos vereadores de esquerda através de expoentes como João Gonçalves e Genivaldo Fausto. Nessa legislatura foi instalada a CPI da prostituição infanto-juvenil requerida pelo então vereador Ricardo Coutinho. O objetivo era o de investigar, discutir e denunciar os responsáveis por aliciamento de menores na Capital e cidades vizinhas. A CPI trouxe deputados federais como Chico Vigilante, Jandira Feghali, Célia Mendes e Lúcia Braga, além da senadora Benedita da Silva.
Um outro fato marcante foi a renúncia de Wilson Braga ao cargo de presidente, em caráter irrevogável. Braga fora um dos vereadores mais votados em 92 e foi substituído por Josauro Paulo Neto, que ganhou por um voto de diferença de Aristávora Santos, Tavinho. Faziam parte, ainda, da legislatura, a advogada criminalista Nadja Palitot e o artista Francisco Ferreira (Pinto do Acordeon). A partir de 93 a Câmara passou a contar com 21 vereadores em decorrência de emenda constitucional apresentada no Congresso, disciplinando, por número de habitantes, a quantidade de parlamentares nas Casas Legislativas do país. A morte do deputado Ulysses Guimarães em acidente de helicóptero foi registrada na tribuna do legislativo pessoense pelo vereador Potengi Lucena, que leu nota oficial do PMDB da Paraíba relatando os fatos e externando condolências. Já a eleição do paraibano Lindbergh Farias Filho para a presidência da União Nacional dos Estudantes foi saudada por Renô Macaúbas, que era companheiro de partido de Farias (ambos filiados ao PCdoB). Atualmente, Lindbergh é senador pelo PT do Estado do Rio e foi prefeito de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. À frente da UNE, Lindbergh liderou o movimento dos “cara-pintadas” pelo impeachment de Fernando Collor. Hoje, Collor e Lindbergh dividem o metro quadrado do Senado.
O atual presidente da Câmara Municipal de João Pessoa, Marcos Vinícius da Nóbrega, ressalta que a leitura das atas de sessões históricas da Casa de Napoleão Laureano possibilita o conhecimento da atuação marcante dos integrantes do Poder em legislaturas distintas. Para ele, a Câmara sempre procurou estar sintonizada com os interesses imediatos da população pessoense e, ao mesmo tempo, acompanhar a conjuntura nacional, tomando posição diante de acontecimentos relevantes com impacto em todo o país. “As grandes causas da sociedade tiveram eco na tribuna e no plenário da Câmara e esse processo tem se aprimorado cada vez mais, agora com a facilidade de mecanismos mais ágeis de transparência e elucidação de fatos”, pontuou Marcos Vinícius, do PSDB.
Nonato Guedes